É enganosa a legenda de uma imagem que afirma que a candidata à Presidência da República pela Rede, Marina Silva, teria invadido uma fazenda no Acre em 1986 de maneira semelhante à adotada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na verdade, a foto que circula no WhatsApp mostra um “empate”, manifestação feita por seringueiros para impedir o desmatamento na Fazenda Bordon, em Xapuri.
O projeto Comprova, criado para combater notícias falsas na eleição presidencial, entrou em contato com a assessoria de Marina, que negou que a imagem esteja relacionada à invasão de terras ou ao MST. Segundo a nota da candidata, no “empate” os manifestantes se colocavam em frente às árvores para impedir sua derrubada. A assessoria acrescentou que o coordenador do movimento de seringueiros era o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988.
Em um artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, o antropólogo Mauro de Almeida descreve o empate liderado por Chico Mendes na Fazenda Bordon. O acadêmico escreve que o ambientalista coordenou “cerca de cem seringueiros, que caminharam durante três dias pelas coivaras enegrecidas e fumegantes de florestas recém-queimadas”. Entre os participantes do protesto estavam “um fotógrafo, dois agrônomos, um antropólogo e uma jovem professora sindicalizada, Marina Silva”.
Marina recordou o episódio em um discurso no Plenário do Senado, em 14 de novembro de 1996, quando ela representava o Acre na Casa. “Após andarmos seis horas a pé, chegamos onde os fazendeiros iriam derrubar ilegalmente 700 hectares de floresta. Enfrentamos os peões e a Polícia — paga com o dinheiro público — que estavam ali de prontidão para defender os interesses dos fazendeiros e percebemos que éramos impotentes para resolver um problema tão grande. Voltamos a pé e foi necessária uma engenharia enorme para permanecermos na luta.”
Em uma reportagem publicada em 2013 pelo portal G1, a zeladora Maria Elvana Pereira relembrou sua participação no mesmo empate, quando tinha 15 anos. Assim como nos relatos anteriores, ela indica que os seringueiros não permaneceram ou ocuparam a fazenda. “Foi todo mundo e quando chegou lá tava a peãozada derrubando tudo e o Chico Mendes de frente, para a gente falar com os chefes lá, e eu no meio toda animada. (…) Aí voltamos e em seguida o Chico Mendes fez um ato público e disse que estava sendo ameaçado de morte, que sabia que ia morrer e ele não queria que ninguém deixasse. Ele queria que continuasse a luta”.
Outro elemento que reforça que a imagem não retrata uma ocupação do MST é o fato de o movimento não estar organizado no Acre. “Não realizamos, até então, nenhuma ocupação por lá. Ou seja, não temos um nível de organicidade construída, nem assentamentos ou acampamentos”, informou a assessoria do grupo, fundado oficialmente em 1984, no Paraná. Portanto, dois anos antes do protesto do qual Marina participou.
A foto com a informação falsa apareceu como altamente compartilhada, nos últimos dias, no Monitor de WhatsApp, ferramenta desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para acompanhar conteúdos difundidos em grupos abertos. Há uma outra versão do boato. A diferença desta é que o texto é mais assertivo. Indica, também falsamente, que a imagem retrata Marina Silva “liderando a quadrilha do MST” em uma invasão de fazenda.
A checagem de fatos publicada acima foi feita dentro do projeto Comprova, lançado para combater notícias falsas nas eleições, e envolveu jornalistas de O Estado de S. Paulo e Gazeta Online. Até o momento, VEJA e outros dois veículos que integram a iniciativa concordaram com o processo e a conclusão da apuração: UOL e Folha de S. Paulo. O Comprova é composto por 24 veículos de comunicação brasileiros.
O leitor pode sugerir ao projeto boatos e notícias falsas a serem desmentidos, por meio do WhatsApp, no número (11) 97795-0022. O Me Engana que Eu Posto também recebe sugestões pelo aplicativo de mensagens, no número (11) 9 9967-9374.