A complexa negociação das reparações de Mariana é apenas um dos imbróglios que o novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, receberá das gestões anteriores. A empresa está prestes a esgotar as alternativas jurídicas para barrar ação bilionária de ex-funcionário. A companhia busca anular laudo que reconhece a autoria do técnico mecânico industrial José Carlos Olindino sobre uma invenção que gerou bilhões de dólares em lucros para a Vale.
Após ter mais um recurso negado pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo em agosto, a mineradora tenta nova manobra para adiar o andamento do processo. A história começa em 1977, quando Olindino começou a trabalhar na Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale S/A). Durante seu tempo na mineradora, ele desenvolveu um mecanismo inovador, denominado “acionamento pneumático de travamento de giro da comporta de troca de carros grelha”, um nome quase incompreensível para os leigos, mas que incrementou drasticamente a produtividade e segurança no transporte de minérios.
A invenção permitiu reduzir o tempo de passagem dos materiais de 16 para 3 minutos, e aumentar a produção dos fornos em mais de 900 mil toneladas por mês. A patente do mecanismo chegou a ser registrada pela própria Vale em nome de Olindino. Ainda assim, o ex-funcionário nunca foi compensado financeiramente pela contribuição. Para se ter uma ideia, Olindino só descobriu que sua criação era usada nas usinas da Vale anos depois, quando foi chamado pela mineradora para aprimorar o sistema.
A ação foi ajuizada em 2007. A perícia técnica, concluída em 2016, apurou que a empresa obteve um benefício de US$ 5,5 bilhões com o invento até aquela data. A Vale já tentou contestar a perícia na Justiça três vezes, tendo todos os recursos negados. Agora, a empresa conseguiu um adiamento junto ao TJES, que concedeu efeito suspensivo ao recurso da mineradora. Enquanto isso, a mineradora continua usando a invenção de Olindino: o mecanismo opera atualmente em 10 usinas – nove no Espírito Santo e uma em Omã, no Oriente Médio.