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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Só a direita pode nos salvar de Bolsonaro

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva afirma que o bolsonarismo não vive como movimento político, mas como movimento social

Por Rodrigo Vicente Silva
Atualizado em 9 Maio 2024, 12h06 - Publicado em 23 abr 2024, 11h00

Bolsonaro foi às ruas de novo, não juntou muita gente, mas mostrou que faz barulho e continua a liderar a extrema direita, principalmente aquela cujos valores são os mais golpistas possíveis. O roteiro foi mais ou menos o mesmo: senadores, deputados e governadores que subiram ao palanque para apoiar o capitão e esbravejar contra o STF.

Silas Malafaia, o representante de parte do golpismo religioso, estava lá, pronto para atacar seu algoz, o ministro Alexandre de Moraes. Parece uma história sem fim, mas a tendência é essa mesmo, estamos fadados a isso, ao menos por enquanto.

Só vejo uma solução. E ela está nas mãos da direita.

Quem imaginava que as eleições de 2022 resolveriam o problema se enganou redondamente. É claro que para os que votaram em Lula de forma pragmática, porque sabiam que o golpismo estava à solta, entende que fez o mais prudente diante do período que é o mais tenebroso da nova República.

E é aí que mora o problema. Para que uma democracia funcione razoavelmente bem é necessário que haja um paralelo entre forças antagônicas fortes.

Foi assim no pós-ditadura, quando PT e PSDB se colocaram como representantes de duas correntes possíveis – dentro do jogo democrático – para concorrer à presidência da República. Mesmo nos momentos das maiores crises, como o impeachment de Dilma Rousseff, o processo funcionou. Não é o que temos agora.

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Muitos podem dizer que Bolsonaro está fora do jogo partidário, porque teve seus direitos cassados pelo TSE. O problema é que o bolsonarismo está vivo e não como um movimento político, mas como movimento social, o que é ainda pior.

Movimentos desse porte arrebatam gente de todos os lados e por mais que tentem ridicularizar as senhorinhas com suas maquiagens esverdeadas, a coisa parece não ter fim tão cedo. Se fosse um jogador partidário, de fato “dentro das quatro linhas”, a coisa estaria muito melhor. Perdeu a eleição? Ok, bola pra frente e espera a próxima.

Foi mais ou menos assim até 2014, quando Aécio Neves tentou questionar o pleito presidencial. Foi um estrago, mas estava longe de ser a barbárie que seria o bolsonarismo. Por mais que Aécio tivesse ultrapassado uma linha perigosa, o PSDB era um partido das fileiras democráticas e apostava no processo político partidário. Depois dali foi só ladeira abaixo, seja para o PSDB ou pro jogo democrático. E ambas tem muito a ver.

Enquanto saiu de cena e deixou o campo livre para um novo movimento – desta vez não mais político-partidário – passamos a viver nesse buraco em que tudo vale, inclusive destruir o sistema todo, mandar às favas o laicismo do Estado e chutar o balde para a institucionalidade. Vale tudo quando o objetivo comum não é um projeto de país, liderado por partidos e ideias, como foi com PSDB e PT.

E a pergunta que não quer calar: quem pode mudar o rumo dessa história? Parece-me que só uma direita responsável, capaz de levar a disputa para o campo partidário. Quem seria capaz dessa façanha? A terceira via nunca funcionou, nem em momentos de estabilidade, que dirá em tempos como estes em que vivemos. Simone Tebet, a fim de sobreviver politicamente, foi para as fileiras do governo Lula. Ciro Gomes vive uma viagem psicodélica ao estilo bad vibes junto das ideias pouco palpáveis do correligionário Mangabeira Unger. O PSDB faleceu e Alckmin é o vice de Lula. Sobra pouco. Muito pouco.

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E o que falar dos possíveis candidatos da direita? Zema vive em um mundo paralelo no Reino da meritocracia dos “novistas”. Caiado governa um estado essencialmente bolsonarista e não parece mostrar condições de ir mais ao centro. O mesmo para Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, tido como “mais ameno” e “centrista”, mas que não pode pular fora porque do contrário é devorado pelo bolsonarismo. Ademais, de centrista parece ter pouco. A ver a política de segurança pública do estado de São Paulo.

O restante é a figuração máxima da tragédia. Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, tem de andar na linha, porque seu estado é fiel escudeiro do movimento liderado pelo capitão Bolsonaro. Está em primeiro mandato e precisa sobreviver politicamente. Sobra ainda a ex-primeira-dama, mas daí a conversa não é nem de longe no campo possível do jogo democrático, tampouco da disputa político-partidária. Michelle Bolsonaro figura o que há de mais assustador do movimento social bolsonarista: é o puro suco de extremismo religioso, com a falta total de liberdade, mesmo que essa palavra seja o mantra de seus apoiadores e seguidores.

Ficamos por aqui, a ouvir parlamentares falando em inglês “para serem ouvidos mundo afora”, pedindo aplausos a Elon Musk, à espera de uma direita séria e responsável que aceite as regras do jogo e possa, minimamente, se colocar de forma competitiva. Parece quase uma utopia. Mas não podemos perder as esperanças.

* Rodrigo Vicente Silva é Mestre e Doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Graduado em História (PUC-PR) e aluno de Jornalismo (Cásper Líbero). Editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política é vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem)

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