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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Por que Lula e o PT insistem no Chavismo e na defesa de Maduro?

Em artigo enviado à coluna, o cientista político Rodrigo Vicente Silva comenta as últimas contradições da esquerda brasileira

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2024, 05h48 - Publicado em 29 jul 2024, 00h01

O assunto Venezuela é calo apertado no sapato do governo Lula, que aparentemente não deseja tratar o problema. Pelo contrário, parece fazer questão de mantê-lo. O que mais intriga é por que trazer para si esse desgaste?

Em dia de eleição no país vizinho, cujo legado chavista, há 14 anos sendo comandado por Nicolás Maduro, parece estar ameaçado, vale passar pelo histórico da relação de Lula e do PT com o regime venezuelano para entender um pouco como se chegou até aqui.

Não foram poucas as vezes que Lula saiu em defesa de Hugo Chávez nos governos passados. Para o PT e o presidente, o chavismo sempre se mostrou um gigante contra o “imperialismo norte-americano” e uma forma de combate à exploração do petróleo e das riquezas venezuelanas.

Até aqui, em parte, poderíamos concordar que sim. Os Estados Unidos são craques em se meter em temas alheios, principalmente quando o assunto é defender sua liderança e seu poderio.  E o petróleo venezuelano, sabemos, foi sempre interesse estrangeiro e, por óbvio, dos Estados Unidos.

É fato também que Chávez, à época, se levantou contra os Estados Unidos, defendendo os interesses nacionais e implementando em seu governo políticas de erradicação da pobreza. E, sim, para não ser injusto com a história, é fato que houve avanços em termos de alfabetização e programas de inclusão social.

Dito tudo isso, era evidente que todo esse processo vinha embrulhado em um populismo de discurso para lá de anacrônico, cujo mote era o resgate de uma América Latina grande e heróica em que a figura de Simón Bolívar reinaria para todo lado. Estava tudo lá para quem quisesse ver e ouvir.

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Ou seja, estava dado, desde o princípio, que a Venezuela chavista era um sonho calcado no resgate de um passado já não mais possível, mas que ecoava, e infelizmente ecoa, na esquerda brasileira, em especial de uma parcela grande do PT.

E o pior, claro, era que não ecoava só nos corações da esquerda, mas também no pensamento do então deputado Jair Bolsonaro. Não esqueçamos que, em entrevista ao Estadão no ano de 1999, resgatada nas vésperas da eleição de 2018, Bolsonaro dizia que Chávez era uma esperança para a América Latina… Havia para quem quisesse ver que o projeto chavista tinha raiz autoritária e descambaria pelo caminho que percorreu, longe de um processo democrático de verdade.

Por que defender, ainda, o tal legado chavista e a permanência de Maduro no poder sendo que são robustas as evidências de que o regime não se mostra nada aberto a uma democracia de fato?

Não nos esqueçamos do relatório da ONU liderado pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet em 2019, que mostrava as graves violações aos direitos humanos, como perseguições, mortes e exclusão de opositores do regime de Maduro. A resposta para a pergunta está neste pensamento anacrônico, de parte da esquerda, que insiste em resgatar um passado que, como dito, já não é mais possível resgatar.

É como se parte da esquerda brasileira ainda estivesse lá na década 1960 na iminência de os Estados Unidos e suas articulações frente à “Aliança para o Progresso”. Como se o interlocutor ainda fosse Lincoln Gordon, o embaixador todo poderoso que articulou o Golpe de 1964.

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E ao não sair desse lugar, de um passado mofado, perde-se a chance de olhar para o futuro ou mesmo de colocar o passado no lugar onde ele, de fato, deveria estar na memória. Porque se Lula, influenciado por toda articulação de Celso Amorim, ainda insiste na defesa da América Latina unida e grande, cheia de passado e esvaziada de futuro, o presidente esquece ou escolhe esquecer da condenação do golpe, como o fez na passagem dos 60 anos deste evento horroroso de nossa história, em março.

O PT e o presidente Lula, eleitos em frente ampla em defesa da democracia e do sistema eleitoral brasileiro, perdem a oportunidade de sair em defesa do nosso sistema de votação, atacado por Maduro, líder de um regime amplamente condenado pela comunidade internacional por inúmeras falhas em eleições e referendos pouco transparentes.

Por fim, depois de termos passado por quatro anos obscuros sob a égide de um governo que afrontava a defesa dos direitos humanos e a liberdade de expressão, atacando e espionando jornalistas, o presidente Lula escolhe não condenar um regime amplamente condenado contra todas essas barbaridades vividas por aqui.

Lula, como democrata que é, deveria, assim como o faz o presidente Boric do Chile, condenar o absurdo que é um regime ditatorial na América Latina. Deveria fazê-lo não só por ser o presidente de um país democrático, que mostrou que é possível passar pela tentativa de um golpe e da implantação de um chavismo brasileiro, encapado pelas loucuras de Bolsonaro. Mais do que isso, deveria fazer em respeito a sua história e à memória dos que votaram nele em 2022, a fim de varrer qualquer aventura autoritária por aqui. Deveria honrar sua história e fazer-se de exemplo. De novo, escolhe não fazer.

* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com a coluna.

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