Jair Bolsonaro já está tirando o corpo fora, mas a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro joga por terra a falácia repetida exaustivamente pelo presidente de que nunca houve corrupção em seu governo.
Como se sabe, o caso investiga um balcão de negócios no Ministério da Educação para liberação de verbas milionárias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE. O esquema teria sido comandado por pastores evangélicos, base de apoio do governo Bolsonaro.
Milton Ribeiro foi visto próximo do presidente inúmeras vezes nos quase dois anos que ficou à frente da pasta, a mesma que Bolsonaro sempre acompanhou de perto até por sua obsessão ideológica em relação ao tema.
Por ser pastor, o ex-ministro da Educação fazia ainda – para além da função do primeiro escalão – o papel de capelão do governo, proferindo orações em eventos do Executivo que muitas vezes não tinham nada a ver com o ministério que comandava.
Era mais uma face da mistura entre púlpito e palanque que nunca deu certo na história da humanidade, mas que os líderes evangélicos brasileiros aceitaram pela sede de poder. Transformaram-se em um importante tentáculo do bolsonarismo.
Ocorre que não é só a ligação de Bolsonaro com Milton Ribeiro que precisa ser colocada sob holofote, após a deflagração da Operação Acesso Pago, da Polícia Federal. É preciso lembrar que os outros pastores envolvidos tinham conexão com o presidente antes de Milton Ribeiro ser ministro.
Os “religiosos” Gilmar Santos e Arilton Moura, também alvos da investigação da PF sobre corrupção e trafico de influência no MEC, eram unha e carne com Bolsonaro – indicados pelo próprio presidente para atuar na pasta.
Como informou a Folha de S.Paulo, ambos somaram 45 entradas no Palácio do Planalto. Em outubro de 2019, nove meses antes de Milton Ribeiro assumir o Ministério da Educação, eles já participavam de um evento no Palácio do Planalto.
Em áudio revelado pelo jornal, o ex-ministro disse o absurdo de que priorizava pedidos de pessoas ligadas a esses pastores por ordem do presidente da República. Bolsonaro pode gritar, espernear, reclamar da imprensa, mas a digital dele está mais que exposta neste escândalo.
E trata-se de corrupção. Pura e simples.