A única gravação com a voz de Cândido Portinari – o pintor brasileiro mais conhecido no mundo – tem apenas 59 segundos e foi encontrada recentemente numa velha entrevista à Rádio francesa RTF, em 1946. Descoberta por sua família, o áudio foi enviado à coluna nesta quinta-feira, 26.
Essa será a primeira vez que ele será reproduzido publicamente no Brasil, segundo o Projeto Portinari. Ouça aqui a pergunta do repórter francês e a resposta do pintor:
Como revelou a coluna em 8 de outubro, a gravação será parte importante da programação da III FliItabira, que começa no próximo dia 31 e vai até o dia 5 de Novembro na charmosa cidade onde Carlos Drummond de Andrade nasceu.
A resposta de Portinari à rádio francesa será reproduzida na abertura do evento, que contará também com um inédito diálogo entre ele e o próprio Drummond – sim, uma conversa que só a tecnologia pode proporcionar.
O público do festival vai ouvir a voz sintetizada do poeta lendo cartas endereçadas a Portinari e este a responder, com uma inédita voz também sintetizada, recriada a partir da relíquia encontrada na rádio francesa.
Esse trabalho de recuperação das vozes de dois ícones brasileiros está sendo desenvolvido pelo estudante do curso de engenharia da computação Itallo Lobo Leite Carneiro, de apenas 18 anos, sob a coordenação de Juliano de Almeida Monte-Mor, professor da Unifei Itabira.
Ouça também abaixo, em primeira mão, um dos diálogos entre Portinari e Drummond que serão exibidos no festival.
O áudio original de Drummond:
Aqui a voz sintetizada de Portinari lendo uma carta para o poeta:
E, por último, a voz sintetizada de Drummond lendo uma carta para Portinari:
O tema do III FliItabira será, por isso mesmo, “Arte, Literatura e Correspondências”, mais um capítulo da bonita revolução cultural que festivais literários têm gerado no interior do Brasil.
As cartas que serão lidas, aliás, mostram a importância que os Correios tinham na vida das pessoas no século XX, e na formação de mentalidades geniais como a de Drummond.
Foi através delas que escritores estruturaram conceitos e ideias que se materializaram, ao longo do tempo, na política, na cultura e na educação. “Há que se fazer um resgate desta bagagem imensa, contida nestas cartas, hoje depositadas na Casa de Rui Barbosa, no IMS e na Biblioteca Nacional”, afirma Afonso Borges, um dos curadores do evento.
Afonso tem razão. O Brasil tem mais a ganhar ouvindo mais diálogos entre Drummond e Portinari do que conversas cansativas que tem se repetido com a polarização política dos últimos anos.
PS – A programação do Festival, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale por meio da Lei Rouanet, está disponível no site flitabira.com.br.