Quatro dos últimos dez presidentes da Câmara dos Deputados chegaram a ser presos pela Justiça brasileira em tempos recentes. É evidente que o cargo é espinhoso e atrai todo tipo de adversário, mas é igualmente óbvio que a direção da Câmara está nivelada por baixo no século 21.
Os nomes dos últimos ocupantes da cadeira conforme o próprio portal da instituição são: Rodrigo Maia (2016-2020), Waldir Maranhão (2016), Eduardo Cunha (2015-2016), Henrique Eduardo Alves (2013-2015), Marco Maia (2011-2013), Michel Temer (2009-2010), Arlindo Chinaglia (2007-2009), Aldo Rebelo (2005-2007), Severino Cavalcanti (2005) e João Paulo Cunha (2003-2005).
Estes indivíduos não deixam de ser um retrato fiel da atividade política brasileira nas últimas duas décadas. Os fatos são públicos e notórios. Uma breve amostra é o suficiente:
Eduardo Cunha está preso desde 2016. Antes da prisão pela Polícia Federal, teve o mandato cassado pelo próprio plenário da Câmara por 450 votos a 10. Na Justiça, foi condenado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em 2020 Cunha foi novamente condenado por um esquema de propina em navios-sonda.
João Paulo Cunha cumpriu pena no Complexo Penitenciário da Papuda entre 2014 e 2015 por sua condenação no STF pelos crimes de peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro praticados durante sua presidência da Câmara. João Paulo Cunha chegou a descrever sua rotina carcerária para a Revista Veja, afirmando que: “a chegada é uma coisa muito dura. É uma mistura de tristeza, melancolia, ódio, raiva, uma vontade de chorar e ao mesmo tempo de gritar”.
Henrique Eduardo Alves foi preso preventivamente em 2017 por suspeita de envolvimento em desvios nas obras da Arena das Dunas. Após um ano preso Alves teve sua prisão revogada para aguardar o julgamento em liberdade.
Michel Temer foi preso preventivamente em 2019, mas solto pelo STJ dias depois.
Severino Cavalcanti ficou apenas sete meses no posto de presidente da Câmara pois logo foi denunciado no escândalo do mensalinho. O caso realçou a prática corrupta miúda entre as aberrações vultuosas protagonizadas por integrantes da Câmara. Sebastião Buani, o dono de um restaurante da Câmara, acusou Cavalcanti de cobrar-lhe a mensalidade de 10 mil reais sob ameaça de fechar o restaurante dele. Cavalcanti renunciou ao mandato para não ser cassado.
Waldir Maranhão assumiu interinamente após a saída de Eduardo Cunha e ficou conhecido por anular a sessão de admissibilidade do impeachment de Dilma, mas revogar a própria decisão no mesmo dia. Maranhão teve sua prestação de contas rejeitada pelo TRE-MA além de ser investigado em diversos processos por crimes como lavagem de dinheiro e ocultação de bens.
Este tipo de liderança política é tudo que o Brasil pode produzir? O poeta Mário Quintana disse que os jornais sempre proclamam que “a situação é crítica”. Infelizmente, no caso da presidência da Câmara dos Deputados a situação é crítica mesmo. O povo observa atento as eleições para as presidências da Câmara e do Senado amanhã. Brasileiros e brasileiras anseiam por lideranças públicas com o mínimo de decência.