Que o PT não é bom de autocrítica todo mundo sabe. E que o PT é bom de estratégia política, todo mundo sabe também.
Diante desses dois fatos, é acertada a decisão do partido de antecipar a discussão sobre os muitos erros cometidos pelo governo Dilma Rousseff, na política econômica.
Como informaram Cátia Seabra e Victoria Azevedo, a ideia da cúpula do PT é a de se vacinar contra críticas à gestão, que levaram o país a uma das maiores recessões da história do Brasil.
Vacina esta, claro, contra Jair Bolsonaro, que não gosta de imunizantes, e que tentará explorar justamente este flanco para tentar vencer Lula, o que hoje é improvável.
Se a busca é por antecipar o debate que deverá marcar a corrida presidencial, não custa lembrar o PT de alguns – apenas alguns – dos muitos erros cometidas por Dilma e sua equipe econômica:
1 – A contabilidade criativa, também chamada de pedalada. Através dela, o governo abria espaços artificiais de gastos no orçamento. Isso levou o país do superávit primário ao déficit, elevou também a dívida e provocou a perda do grau de investimento.
2 – Ampliação das desonerações de impostos para setores, e aumento dos setores beneficiados, o que elevou muito o gasto público e beneficiou empresas e empresários, numa transferência de renda para os ricos.
3 – O uso do BNDES para financiar com juros de “mãe para filho” empresários como Joesley Batista, ou na linguagem de esquerda, favorecendo a acumulação de capital na elite.
4 – Subsídios bilionários nos preços dos combustíveis, que levaram a Petrobras a ter seguidos prejuízos.
5 – Intervenção desastrada no setor elétrico, pela MP 579, que desestabilizou financeiramente as empresas, reduziu preço de energia, e depois estourou num tarifaço em 2015.
Tudo isso resultou numa crise dupla. A inflação disparou, e chegou a dois dígitos, e o PIB caiu 3,5% em 2015 e mais 3,5% em 2016, ano em que ele foi afastada. Os juros foram elevados a 14,25% para tentar combater a alta de preços.
Guido Mantega, ministro da Fazenda de 2006 a 2014, foi escalado por Lula para fazer um documento que defenderá a gestão petista, mas também reconhecerá equívocos.
Não é, nem de longe, a melhor pessoa. Foi ele que plantou os desequilíbrios que a ex-presidente tentou consertar no seu segundo mandato e não conseguiu.
Ou seja, obviamente a autocrítica conterá narrativas políticas, como tudo o que PT faz, mas seria bom que a honestidade sobre os erros prevalecesse desta vez.
Seria até uma estratégia inteligente reconhecer os erros. Isso mostraria que os equívocos não vão se repetir. Mas certamente tudo o que acontecerá é admitir um ou outro erro – o das desonerações de impostos por exemplo – e jogar a culpa dos problemas no “golpe”.