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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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O Brasil raiz: acima da polarização política

Olimpíadas terminam e deixam lembrança de que é possível sonhar com dias melhores

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 ago 2021, 14h14
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  • Durante alguns dias, o brasileiro voltou a sorrir. Atenuando um pouco a tristeza vivida há mais de um ano por causa da pandemia que atingiu milhões de pessoas, conseguimos lembrar que a esperança continua viva. Perdemos noites de sono, foi duro conciliar o horário com o outro lado da Terra redonda, mas valeu a pena acompanhar brasileiros que decidiram fazer história.

    Nossos heróis olímpicos, tanto os que ganharam medalha como os que saíram de Tóquio sem subir ao pódio, ensinaram sobre superação, persistência e, principalmente, coragem. Muitas histórias foram contadas e mostraram o Brasil raiz, aquele no qual a miséria faz parte do caminho, mas não impede o brasileiro de sonhar. 

    Em cada vitória, frases impactantes dos nossos atletas nos relembraram que, mesmo com dificuldades, é possível vencer. Por um momento, estávamos nos esquecendo o que é o Brasil. Foi um alívio ouvir palavras sábias de pessoas jovens e que tinham a noção de encarnar o país. Alison dos Santos, por exemplo, disse que corria não apenas por ele, pelo treinador, pela família, mas pelo país.

    O país onde uma criança de 13 anos serve de exemplo para outras milhões de crianças que brincam de skate na rua. E até para os adultos. Rayssa Leal veio do interior de Imperatriz, no Maranhão, e não tinha boas condições financeiras. Mas contou com o apoio e esforço dos pais, levou a medalha de prata no skate e entrou para a história.

    “Meu pai e minha mãe estiveram nos melhores e nos piores momentos. Saíram com a cara e a coragem para estar aqui, no meu primeiro campeonato olímpico, estreia do skate no evento. Estou com uma medalha na mão. É muito especial”, disse a menina de 13 anos com uma sabedoria de gente grande.

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    Outro guerreiro de origem humilde foi Ítalo Ferreira, que colocou seu nome no Olimpo ao se tornar o primeiro campeão olímpico de surfe. O atleta de Baía Formosa (RN) precisou de muito apoio para conseguir vencer no surfe, um esporte caro e de difícil acesso. Quando começou a praticar, pegava pranchas emprestadas pois não tinha condições de comprar uma.  Muitas vezes usou caixas de isopor.

    Ao vencer a Olimpíada, Ítalo deixou a lição: “Acho que isso serve de inspiração para aqueles que vêm de baixo, que têm sonhos, que acreditam até o final, que foi o que fiz, e aproveitar todas as oportunidades da vida. Às vezes a gente só tem uma. Então eu vivo intensamente”, ensinou o campeão.

    Outras tantas histórias foram vistas durante as Olimpíadas. Alison dos Santos, o “Piu”, ganhou a primeira medalha do Brasil nos 400 metros com barreiras ao conquistar o bronze. Na infância, sofreu um acidente com uma panela de óleo quente e teve sérias queimaduras na cabeça.

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    Isaquias Queiroz, ouro na canoagem, veio de origem pobre no interior da Bahia. Quando criança, panela de água fervente também caiu sobre ele. Aos 10, sofreu uma hemorragia interna ao cair de uma árvore e teve um rim retirado. No Rio, em 2016, acompanhei de perto a prata que ele ganhou na Lagoa. Sua mãe, dona Dilma, estava sentada perto de nós. Fomos pedir fotos, claro, e ela afagou meus filhos, Mariana e Daniel, colocando-os no colo, mostrando um Brasil que abraça.

    Pedro Barros, skatista, agora eternizado como medalhista de prata nas Olimpíadas de Tóquio, afirmou: “O Brasil pode ser visto às vezes de cabeça para baixo, mas o skate park nas olimpíadas e a minha história podem servir de exemplo para mostrar ao povo brasileiro que está nas nossas mãos construir um construir um país melhor. Com amor, união e respeito, a gente consegue”. Ele veio da pobreza também.

    Quando comparados com atletas de outros países, como Estados Unidos, os brasileiros tiveram mais barreiras a superar. Com pouquíssimo apoio de programas de esportes, o jeito é contar com a família, amigos e empresas que acreditam nos atletas.

    Que essas Olimpíadas tenham servido de exemplo tanto para os brasileiros que praticam algum esporte como para quem investe nos atletas. É possível mudar a realidade difícil e facilitar o caminho desses heróis até o pódio. Paris está logo ali e estamos ansiosos pelas próximas histórias vitoriosas que vamos ouvir.

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