A revelação de que o general Mauro Lourena Cid combinou com o filho Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, a entrega de dinheiro vivo a Jair Bolsonaro é o mais novo terremoto de grandes proporções na fustigada política brasileira.
É um esquema com nuances clássicas de corrupção, lavagem de dinheiro e falta de vergonha na cara.
Nele, se percebe claramente que o escândalo das joias das Arábias é muito maior e criminalmente mais sofisticado, envolvendo adornos de outras nações e o vergonhoso desvio desses bens do estado brasileiro para, ao que tudo indica, o enriquecimento do ex-presidente e de seus auxiliares.
Basta ler um trecho da decisão de Alexandre de Moraes contra Mauro Cid 1, Mauro Cid 2, o advogado Frederick Wasseff e Osmar Crivelatti, outro ex-ajudante de ordens do líder da extrema-direita, para se chegar a essa conclusão.
“Na mensagem Mauro Cid aborda três assuntos, que estariam relacionados. O conteúdo do áudio revelou, inicialmente, que o general Mauro Lourena Cid estaria com 25 mil dólares, possivelmente pertencentes a Jair Bolsonaro. Na mensagem, Mauro Cid deixa evidenciado o receio de utilizar o sistema bancário formal para repassar o dinheiro ao ex-presidente e então sugere entregar os recursos em espécie, por meio de seu pai, diz: ‘Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor ne? (…)’”, afirma esse pequeno e demolidor trecho das 105 páginas produzidas pelo ministro do Supremo.
Fato é que o escândalo mostra que todos os quatro envolvidos não tinham o entendimento e nem queriam ter sobre a separação entre o público e o privado.
Desavergonhadamente, um tenente-coronel e funcionário da Presidência usava o pai, um general e colega de Bolsonaro na academia de formação de oficiais do Exército, para esconder das autoridades movimentações bancárias ilícitas que eram fruto da venda de bens do Estado brasileiro.
Nesse contexto, o advogado da família do ex-presidente entra no circuito para tentar desfazer as provas da cadeia criminosa, cometendo novas transgressões que tinham o intuito de enganar um dos principais tribunais de Justiça do país.
De forma semelhante, um outro segundo-tenente e também funcionário da presidência – este extremamente ligado a um antigo comandante do Exército – age dentro desse esquema para esconder os bens desviados na fazenda de um tricampeão mundial de Fórmula 1.
Nas mais de 100 páginas produzidas por Alexandre de Moraes pode-se ler tudo isso. “Organização criminosa” com “total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro” que funcionava para “desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro”.
Também se vê que esses bens “ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.
Ou, se depara com a seguinte descrição: “os elementos de prova colhidos demonstraram que, na gestão do ex-presidente, foi criada uma estrutura para desviar os bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras ao ex-presidente da República, para serem posteriormente evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos”.
Para a Polícia Federal, há fortes indícios de que essas quatro pessoas – amigos, ex-ajudantes de ordens e advogados – atuaram para “gerar o enriquecimento ilícito” de Bolsonaro.
Precisa mesmo dizer mais alguma coisa?