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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Deus ou anjo caído? Na verdade, Maradona

Milagroso nos campos, o craque argentino teve que enfrentar dilemas humanos. Suas lutas contra o vício ficarão como lição de que podemos acertar e errar

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 nov 2020, 11h41 - Publicado em 26 nov 2020, 11h31
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  • Diego Armando Maradona viveu tudo que podia, de forma intensa, como se não houvesse amanhã – até o dia que não houve mais. Nas doutrinas das igrejas cristãs, o anjo caído é aquele que, possuído de soberba, acaba se entregando ao pecado e é expulso do paraíso para sempre. Pela grandeza de sua genialidade e furor de sua alma, ele mostrou os dois lados – o maravilhoso e genial jogador, os tropeços do ser humano. Hoje é dia de veneração em Buenos Aires, capital da Argentina, e de tristeza imensa em todo mundo.

    Em 1986, no auge do gênio argentino, vivenciei a primeira Copa do Mundo, que lembro em muitos detalhes. Maradona era assustador. Mágico. Verdadeiramente inacreditável. Capaz de fazer o impossível se tornar possível. Os gols contra a Inglaterra, pelas quartas de final daquele campeonato, foram monumentais e eternos, especialmente diante da rivalidade histórica entre os países. Acho que talvez daí venha essa sua aura divina. Era difícil para um amante do futebol não ser devoto daquele gênio.

    Mas a palavra Deus se incorporou a ele depois do gol de mão quase invisível (la mano de Dios), ou seja, uma subversão radical das regras do futebol. Tudo, até essa quebra de uma lei do futebol, aumentou sua fama. Afinal, aquela era uma partida contra os ingleses que humilharam a Argentina em outros campos mais dolorosos, os da guerra. Quatro anos antes, as ilhas próximas à Argentina, e bem distantes da Inglaterra, foram alvos de uma disputa bélica. Na raiz da Guerra das Malvinas contra o Reino Unido, estava um desejo desesperado da ditadura militar de se perpetuar, mas a raiz da reivindicação inglesa era o resto de um colonialismo sem qualquer sentido.

    Maradona se mistura à Argentina exatamente nesse jogo das quartas de final de uma Copa do Mundo, que acabou vencida pelos argentinos. A mistura se dá porque, da humilhação, ele fez a vingança nacional. E ainda foi perdoado por um gol com a ajuda da “mão de Deus”, como reza a lenda. O segundo gol, que mandou os ingleses para casa, mostra que a estratégia bélica de Maradona foi o tiro final de uma disputa entre dois países.

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    Além da genialidade nos campos argentinos, Maradona mostrou mesmo seu dom quase milagroso no futebol em Nápoles, na Itália, quando transformou um time pequeno em um verdadeiro campeão. Apesar de ser grande na Argentina, foi no Napoli que ele mostrou sua capacidade de virar o jogo.

    O que o abateu desse firmamento tão reluzente foi a sua dimensão carnal. Ao fazer isso, Maradona coloca para todos nós, humanos, um imenso espelho. Qualquer um pode errar. Essa é a mensagem. Ele vira eterno no céu do futebol por ter sido quase divino em campo, menor apenas que o Rei Pelé, mas nos lembra, da forma mais dramática, que cada um de nós pode fraquejar. Voando em campo em jogadas mágicas, ou caindo diante de um vício do qual não conseguiu se livrar, Diego Armando Maradona nos deu muitas lições. Ficarão guardadas para sempre.

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