O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu uma vitória apertada, mas enormemente significativa. A importância que ela tem é ainda maior do que apenas a vitória de um grupo sobre outro porque aconteceu contra um projeto que poderia destruir a democracia brasileira, o projeto que o presidente Jair Bolsonaro sempre explicitou.
O Brasil andou para frente, mas ao mesmo tempo está dando o “reboot” no país: voltando a 2003. E por que? Por conta, novamente, da esperança de recomeçar um país que está hoje arrasado.
É importante lembrar, contudo, que muito dos ganhos do PT durante os governos Lula se perderam depois nos anos Dilma Rousseff. E isso tem que ser um norte para o líder da esquerda brasileira.
Ocorre que depois foi pior, mas muito pior. Nunca houve uma régua que igualasse os dois projetos, a não ser para aqueles que não têm compromissos civilizatórios. É que depois, a partir de 2019, veio a tragédia. A banalidade do mal. A imitação da falta de ar durante a pandemia. O horror da louvação a tortura.
Há uma regra básica no jornalismo, talvez aquela que se aprende na primeira aula: suicídio é a pior palavra, a palavra não dita. A que nunca pode ser dita. Mas o país parecia estar caminhando para cometer suicídio, pelos ataques a todos os nossos valores, e todo o nosso patrimônio.
Nesses anos houve mortes que poderiam ter sido evitadas. Não apenas na pandemia. Bolsonaro foi corresponsável por algumas delas com o seu negacionismo. E eu poderia falar mais, como meu amigo Bruno Pereira, mas o que quero dizer é que – se Bolsonaro tivesse ganhado, se fosse reeleito – o país caminharia para o suicídio político e de sua sociedade perante o mundo.
Lamento aos bolsonaristas, mas como disse Joaquim Barbosa ao apoiar Lula nestas eleições – mesmo após ter sido o algoz do primeiro grande escândalo de corrupção petista, o mensalão:
“Bolsonaro não tem dignidade, não está à altura de ocupar o cargo dessa relevância. Nas grandes democracias, Bolsonaro é visto como um ser humano abjeto, desprezível”
E ele é! O maior tóxico da política brasileira.
Elegê-lo de novo seria dizer ao mundo: nós aprovamos tudo isso. Aprovamos o horror de se idolatrar torturador, e um presidente que comemora e faz chacota da tortura de mulheres de 19 anos, grávidas.
Sim, Lula teve seus erros. Alguns maiores que outros. Mas, diante de tudo o que fez pelo país – e eu aqui repito que todas as suas condenações foram anuladas – ele merece politicamente mais uma chance.
Era 20 de julho de 2021 quando escrevi que, se vencesse Jair Bolsonaro, Lula seria protagonista da história mais impressionante já vivida por um líder político brasileiro. Um líder extremamente popular que atravessou gerações.
Se fizer um bom governo, olhando para frente, do ponto de vista das figuras míticas da política brasileira, ele superará Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, outra figura expressiva, mas que é um ponto fora da curva na história por ser um misto de ditador e presidente eleito.
Lula é um democrata e estarei explicando nesta coluna porque nos próximos dias.
O desejo deste jornalista é que ele aproveite esses quatro anos para pacificar o país. Que recupere a credibilidade internacional após virarmos pária internacional sob o líder da extrema-direita.
Lula, senhor presidente, coloque o país no rumo para que as novas gerações possam voltar a ter orgulho do Brasil!
Nada mais merecido para o nosso país do que a redenção após o horror.
Basta! Basta de extremismo!