A tragédia terrível envolvendo a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips obrigou o presidente Jair Bolsonaro a dar um passo atrás em sua estratégia de campanha.
O mesmo Twitter usado massivamente por ele para lacrar e fazer piadinhas teve que abrir espaço para uma mensagem de solidariedade às famílias de Bruno e Dom, algo inimaginável. “Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos”, escreveu o presidente.
Bolsonaro teve que ceder, mas não foi por vontade própria. A pressão internacional sobre o governo no caso foi grande e o presidente se viu obrigado a dizer algo que não fosse uma ironia ou deboche.
Antes da confirmação da morte, ele chegou a dizer que Bruno e Dom estavam em uma aventura “que não é recomendável que se faça”. Um completo absurdo.
A tragédia pega em um calcanhar de Aquiles de Bolsonaro: sua insensibilidade diante da morte, como aconteceu na pandemia, teve que dar lugar a uma mensagem solidária.
Além disso, é inegável que Bolsonaro incentivou o crime na região da Amazônia diminuindo a importância dos indígenas e dando espaço a garimpeiros e traficantes.
A postura do presidente mudou principalmente porque estamos em ano eleitoral.
Bolsonaro voltou a investir no personagem lacrador que deu certo em 2018. Como mostrou uma reportagem da Folha escrita pelas jornalistas Thaísa Oliveira e Marianna Holanda, o presidente ganha engajamento quando ironiza declarações de artistas, como Anitta, e quando faz piada sobre seus adversários políticos.
O plano deu certo em 2018, mas agora Bolsonaro tem contra si um ponto fundamental: em sua campanha há quatro anos, não era ele que estava na presidência, ou seja, os problemas do país não eram colocados na sua conta. Agora, depois de 3 anos de um governo péssimo, ele precisa administrar as críticas enquanto tenta usar a “lacração” para minimizar seus graves erros.