A proposta que o presidente Jair Bolsonaro ofereceu na carta de seis páginas ao presidente Joe Biden é uma enrolação. O Brasil já se comprometeu, em 2015, no Acordo de Paris, a acabar com o desmatamento ilegal em 2030, e levar o país ao desmatamento líquido zero. Isso faz parte das compromissos brasileiros.
Bolsonaro dá uma de desentendido e oferece o que já está no acordo, apresentando como se fosse coisa nova. Quem vê nessa oferta uma mudança de postura do governo brasileiro está enganado. A diplomacia americana relacionada ao clima é bem informada o suficiente para não se deixar enrolar.
A meta que o vice presidente Hamilton Mourão apresentou nesta quarta-feira, 14, – a de 8.700 km2 até o fim do ano que vem – significa 16% mais do que o governo Michel Temer teve de desmate em seu último ano. E a gestão Temer elevou o desmatamento também.
O governo Bolsonaro aumentou o desmatamento nos primeiros dois anos, agora promete reduzir em relação ao que havia subido. O que esse compromisso de Mourão representa é mais uma enrolação, como se o país fosse bobo. Nem nós e, de novo, nem a diplomacia climática dos Estados Unidos e da Europa.
Além de compromissos falsos, a carta para Biden tem mentiras. “Queremos ouvir as entidades do terceiro setor, indígenas e comunidades tradicionais”, diz o mesmo presidente que persegue ONGs e expõe indígenas aos mais diversos riscos, como o que esta coluna informou a respeito dos povos mais vulneráveis.