Descobriu-se agora, neste árduo ano de 2020, em qual personagem Jair Bolsonaro se inspira para as suas infinitas maldades. O presidente espelha-se em Scrooge, protagonista desalmado, e com frieza desmedida no coração, do livro Um Conto de Natal, clássico de Charles Dickens publicado em 1843.
Ganancioso e indigno, Ebenezer Scrooge é a personificação da indiferença e acabou retratado, também de forma magistral, por Jim Carrie no filme Fantasmas de Scrooge, em 2009. Na história, quando visitado por assombrações durante o período do Natal, o personagem começa a ter a real noção do quanto falhava como ser e alma vivente.
Scrooge decide não desperdiçar mais aquele momento de festas de fim de ano, e até de autoanálise, e faz uma ressignificação de toda sua vida. Fato é que o encontro consigo mesmo no Natal muitas vezes traz mudanças para a vida das pessoas. Aliás, a fé cristã proporciona isso constantemente, mas é testemunhado com mais clareza no Natal.
Óbvio que, diante do que vemos ano após ano, Bolsonaro é uma versão piorada de Scrooge e sem a sofisticação emprestada por Dickens ao personagem. Muito menos encontra a redenção do espírito do Natal. Não há mensagem cristã que possa despertar em Bolsonaro a civilidade, me lembrou o roteirista Daniel Fraiha, que também o vê como Scrooge.
O político brasileiro mais uma vez fez chacota com a tortura sofrida por uma vítima dos terríveis anos da ditadura militar (1964-1985). Atacou covardemente a ex-presidente Dilma Rousseff, sua adversária política, como já havia feito anteriormente. Não há diferença política que justifique tamanha perversidade. Isso apenas três dias após o Natal.
Scrooge, o personagem inventado por Dieckens, tem mais camadas. Bolsonaro se mostra vazio pelo vazio. A própria história dele não tem sofisticação alguma. É construída de forma crua, pobre e tacanha. Quando se volta para o modo cruel, o que não é raro, o presidente se torna protagonista de um folhetim barato de quinta categoria.