No dia em que o presidente Jair Bolsonaro oficializa sua filiação ao PL de Valdemar Costa Neto, cabe refrescar a memória dos leitores sobre como as coisas mudam na política brasileira. Os inimigos de ontem podem ser os aliados de amanhã e o discurso de ontem não precisa, necessariamente, ser o discurso de hoje.
Na semana passada, depois de confirmar que entraria no PL, Bolsonaro disse que Valdemar é uma pessoa conhecida por honrar a palavra.
“No macro foi tudo conversado com Valdemar. É uma pessoa conhecida por honrar a palavra. Da minha parte também. Temos tudo para realmente ajudar na política brasileira”, disse o presidente.
A fala mostra a contradição do presidente. Em maio de 2018, Bolsonaro foi ao Twitter criticar a imprensa, como sempre faz, diante dos boatos de que ele estaria se aproximando de Valdemar.
“A que ponto chegarão? Primeiro a imprensa mente ao publicar que estive com Waldemar da Costa na semana passada. Agora diz que aceno para corruptos e condenados. É a velha imprensa de sempre, não sabem fazer outra coisa a não ser mentir e mentir”, escreveu.
Bolsonaro gosta de falar de “velha imprensa” e prometeu não fazer a “velha política”, mas, ao contrário do que disse sobre Valdemar, o presidente não tem honrado sua palavra.
Tanto Valdemar como o PL estiveram no centro do escândalo do mensalão em 2005, durante o governo Lula. Na época, Valdemar foi condenado por corrupção passiva. Em 2020, um novo processo: Valdemar virou réu por peculato, corrupção passiva e fraude à licitação pela suposta participação em um esquema de superfaturamento nas obras de trecho da Ferrovia Norte-Sul.
Valdemar tem um passado sombrio e Bolsonaro sabe disso. Em 2018, quando surgiu a possibilidade de que Magno Malta, do PL, fosse o vice em sua chapa, o presidente lembrou que Valdemar já havia sido condenado.
“O outro nome que você falou aí, o Valdemar Costa Neto, já foi condenado no Mensalão, está citado, citado não, está bastante avançada a citação dele no tocante à Lava Jato”, enfatizou.
Um ex-aliado do PT que participou do maior escândalo do governo Lula hoje é aliado de Bolsonaro. Valdemar saiu da esquerda e foi para a extrema direita com uma facilidade impressionante. Na política, cada um age como convém. Bolsonaro está seguindo o mesmo caminho, embora tenha prometido aos seus eleitores que faria diferente.
A cerimônia de hoje desmascara Bolsonaro e mostra que, no fim, ele pratica a velha política que sempre jurou que iria combater.