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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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A verdadeira cruz de Arnaldo Jabor

O peso de provocar o Brasil a pensar no tempo das manadas

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 fev 2022, 17h51 - Publicado em 15 fev 2022, 12h21
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  • Sempre lembrarei com carinho do cineasta e jornalista Arnaldo Jabor. Um fato me veio à mente quando soube de sua morte. Em um momento importante da minha vida pessoal, fiquei hospedado com o meu pai, Marcelo Netto, no apartamento de Jabor, em Nova York.

    À época, no ano de 2000, meu pai sempre ouvia as músicas do cd Buena Vista Social Club, um grande sucesso cubano. Todas as manhãs. Todos os dias. Com o volume no máximo.

    Numa manhã, as notas suingadas foram interrompidas por um forte estrondo: “Pow!” A vibração provocada pelo som alto derru­bou uma linda cruz de cerâmica de Jabor, que rachou ao meio.

    O resto desta engraçada história está contada no meu livro Em Nome dos Pais.

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    Lembro da cruz agora porque o que Arnaldo Jabor colocou como obrigação para ele mesmo foi ajudar o Brasil a pensar.

    Essa era a verdadeira cruz de Jabor, num país que tem se recusado cada vez mais a usar a inteligência para ver e analisar a realidade.

    O cineasta ensinou o país a pensar sempre fora do padrão. Não porque fosse professoral, pelo contrário. Ele chocava, surpreendia, sacudia. Se todos os pensadores estavam indo numa direção, ele resolvia seguir por outra.

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    Arnaldo Jabor transgrediu o pensamento comum, por isso sempre fez tanto sucesso, seja no cinema, no jornalismo, na literatura, nos inesquecíveis comentários na TV Globo. E sempre provocou tanta polêmica.

    Não conheci tanto Jabor para dizer com absoluta certeza. Mas acredito que transgredir o senso comum constantemente tenha sido um peso para ele, uma cruz a ser carregada, principalmente agora em época de sucesso das manadas. A vida inteira o cineasta deixou claro que estava aqui para incomodar.

    Para mim, sempre ficará essa doce lembrança de conviver no ambiente de Jabor, no canto dele em Nova York – um tempo de uma alegria imensa, e no auge da minha juventude. Estadia inesquecível. Fui muito feliz sob o seu teto, Arnaldo Jabor.

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