A maior derrota de Arthur Lira
… com a ajuda da cantora Anitta! Autoridades de Brasília falam que começaram a servir café frio ao presidente da Câmara
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vive seu pior momento desde que chegou ao cargo, em fevereiro de 2021. Durante todo seu mandato, ele conseguiu, quase sempre, impor a agenda política do país, sendo mais protagonista do que o presidente do Senado, que é quem costuma estar mais no holofote.
Perto de deixar a Presidência da Câmara, no entanto, a sorte de Lira está mudando. Todos em Brasília já se deram conta de que ele trava uma luta inglória para se manter relevante após deixar o cargo. É por isso que é importante para ele que bancadas numerosas, como a dos deputados evangélicos e a do centrão, apoiem e votem no nome que ele indicar para a sucessão.
Lira falhou –algo raro em sua presidência– na tentativa de entregar a esses potenciais aliados algo concreto para exibirem em suas bases: o impedimento total do aborto no Brasil. Essa é uma pauta sem sentido e retrógrada que, em tese, agradaria aos eleitores desses políticos evangélicos e conservadores – constatação do puro achismo de Lira e companhia, sem fundamento em nenhuma pesquisa séria, mas que pode ser acertada.
Acostumado a ganhar, Lira perdeu. E perdeu feio.
Ficou para trás a imagem do presidente forte que consegue arregimentar grande apoio para suas pautas e fazer com que os colegas fiquem no plenário até mesmo à noite para as votações. Aliás, uma de suras armas são as aprovações na madrugada. Agora, com a derrota, é sinal da ampulheta se esgotando.
Algumas vozes sensatas da Câmara e da sociedade puxaram a descarga para o projeto que Arthur Lira tentava usar como oferenda aos deputados autodenominados conservadores.
Ele foi atingido em cheio –se tornou alvo central da critica massiva ao projeto. Uma das vozes que protestou foi a cantora Anitta, principal e mais influente artista brasileira do momento, inclusive no exterior. Ela bateu forte nas propostas de Lira contra os direitos das mulheres e de outras minorias, e marcou o presidente da Câmara, que saiu chamuscado. A musicista ajudou não só a derrotar o projeto medieval sobre aborto, mas também a PEC que queria perdoar as multas de partidos que não colocam a porcentagem exigida de mulheres, negros e indígenas.
Tudo somado, o todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados está experimentando o que a maioria dos políticos vive em Brasília, centro do poder nacional, quando seus períodos em posições-chave terminam. A coleção de inimigos e insatisfeitos que ele fez ao longo da carreira e dos últimos dois anos aguarda o fim de sua presidência para ir à desforra.
No momento, estão conseguindo.