“Já ganhamos o Brasileirão, e o Paulistão, não”. A frase foi dita pelo confiante Fernando Haddad, candidato petista ao governo de São Paulo, durante sabatina realizada pelo Uol nesta quarta, 26.
A confiança tem motivos.
Segundo a coluna apurou, pesquisas internas petistas e bolsonaristas apontam que Haddad finalmente conseguiu furar a bolha do PT em São Paulo nos últimos dias, como na entrevista que concedeu e que seu adversário, Tarcísio de Freitas, rejeitou participar.
Haddad fez vários gols durante a sabatina. O primeiro deles foi criticar a postura de Tarcísio em relação ao áudio revelado pela Folha de S. Paulo no qual um integrante da campanha do ex-ministro pede que o cinegrafista da Jovem Pan apague imagens do tiroteio que aconteceu em Paraisópolis.
“Do ponto de vista jurídico, isso é ilegal. Você tem que preservar os elementos para investigação. O cinegrafista não iria apagar uma imagem, aquilo é uma intimidação. Levar para um local e pedir para apagar, isso é crime”, disse Haddad.
A declaração atinge principalmente a ala paulista conservadora que sempre deu vitória ao PSDB e à direita nos últimos 30 anos por causa da defesa da polícia e das forças de segurança.
Outro gol foi lembrar que Tarcísio defende o fim da obrigatoriedade da vacinação de crianças. A relação do bolsonarismo com vacinas, inclusive, é um ponto que precisa ser sempre lembrado. Durante a pandemia, o presidente e seus aliados se comportaram de forma cruel e incompetente. Cruel por causa das falas desumanas de Bolsonaro e incompetente por causa do atraso na compra das vacinas.
“O Tarcísio tem informação técnica para saber que é errado tirar a câmera, tirar a obrigação da vacinação infantil”, destacou Haddad.
Uma boa parte da direita acredita nas vacinas. Ao criticar essa postura, Haddad se aproxima desse grupo que reprova a questão ideológica negacionista dos bolsonaristas.
O petista também acertou ao falar de Roberto Jefferson e criticar Tarcísio por sugerir que o político esteja com problemas mentais e, por isso, atacou a polícia com armas e granada.
“Ele é médico para dar laudo de psiquiatria para o Roberto Jefferson? Uma pessoa que tem granada em casa merece algum tipo de defesa, de atenuante? Às vezes parece que são dois universos, o do Tarcísio, que não é paulista, e a realidade. Ele respeitava esse cara até outro dia, agora está chamando ele de louco”.
Como esta coluna mostrou, o episódio envolvendo Roberto Jefferson pode ter sido determinante para segurar qualquer tentativa de virada de Bolsonaro sobre Lula. Os indecisos e até mesmo eleitores de direita que poderiam votar em Tarcísio ou no presidente provavelmente abriram os olhos para a violência ensandecida defendida por esse grupo armado.
Haddad fez muita questão de relembrar que Tarcísio surgiu há pouquíssimo tempo na política e tem razão em fazer isso. A postura de se recusar a participar da sabatina do Uol é muito negativa para o ex-ministro do governo Bolsonaro.
Embora a estratégia do líder da disputa faltar a debates e sabatinas seja antiga, Tarcísio não deveria usá-la porque apareceu na cena político há poucos meses e não tem nenhum histórico que lhe garanta votos, como é o caso de Lula.
“Ele não é daqui, não conhece os bairros, as cidades, quem vai governar para ele? Depois do debate da Band ele desapareceu, o papel dele é de se apresentar. Tem seis meses de vida pública, não 50 anos como Lula”, disse Haddad.
Mais um gol para o petista.
Tarcísio cresceu em cima da influência de Bolsonaro. Sua trajetória se assemelha ao comensalismo visto entre tubarões e rêmoras. A rêmora fica fixada no corpo do tubarão e vive dos alimentos que saem de sua boca. Se alimenta de restos e se desenvolve assim. Tarcísio tem uma vida política de rêmora e precisa aparecer.
Haddad fez vários gols e pode ter conseguido um fato importantíssimo para o PT: falar com o eleitor que, até então, não tinha visto o petista como uma possibilidade. A três dias do segundo turno, esse feito pode ser a diferença entre a derrota e a vitória. Mesmo em um caso inédito – como o de um partido de esquerda vencer em São Paulo, o que nunca antes aconteceu neste país.