Em seu primeiro discurso como candidata oficial da “terceira via”, chamada por ela de “centro democrático”, Simone Tebet fez críticas muito mais duras e ácidas ao atual presidente Jair Bolsonaro do que ao ex-presidente Lula.
E isso é uma sinalização importante – especialmente para nós, os eleitores.
A senadora, que liderará a aliança entre o MDB, o PSDB e o Cidadania, citou o “mensalão”, o “petrolão” e disse que vai ampliar o Bolsa Família – política pública que, segundo ela, se iniciou ainda no governo do tucano FHC.
Mas foram as críticas dela a Bolsonaro que marcaram o evento que oficializou sua candidatura.
Apontando um retrocesso em diversas áreas gerado pelo atual governo, Tebet mirou, em primeiro lugar, os ataques do presidente à democracia. “[Democracia] é um governo certo da lei e da Constituição e não um homem que acha que pode ditar aos outros poderes o que se pode e não pode fazer”, afirmou.
A agora candidata à presidência disse também não caber omissão quando, no “celeiro do mundo, 33 milhões de brasileiros estão passando fome e 11 milhões estão nas filas intermináveis em busca de uma única vaga de emprego”.
Definindo o Brasil como um dos países com maior desigualdade social, racial e regional, disse não caber omissão também (do atual governo) em um país que foi o líder mundial de assassinatos no ano passado.
Além de criticar Bolsonaro justamente em uma das bandeiras mais cobiçadas por ele, que é a da segurança pública, relembrou que o Brasil tem, hoje, uma inflação de dois dígitos que “come o salário do trabalhador”.
Depois, fez o ataque mais forte contra o atual presidente, inclusive com uma denúncia de que houve corrupção nas atrasadas compras de vacinas contra a Covid-19, que já matou quase 700 mil brasileiros.
“As turbulências não começaram agora, vieram com o governo do PT, é verdade. Vieram com a recessão, com mau governo, com corrupção, com descaminhos, mas elas se multiplicaram com essa gestão: a fome, a miséria, a desigualdade social se multiplicaram”.
Simone Tebet seguiu:
“Mas é ainda mais grave. Soma-se a isso a insensibilidade social do governo, a devastação ambiental, a irresponsabilidade fiscal, o descrédito internacional. Imagine: 30 anos de retrocesso. [Na pandemia] brasileiros morreram porque temos um presidente que não acreditou na ciência e atrasou 45 dias a compra delas”.
“O governo [Bolsonaro] tem hoje uma mancha, uma sombra que um dia a história vai revelar: o esquema de corrupção na compra dessas vacinas, como se a vida valesse um dólar”, disse ela, encarnando a senadora que brilhou na CPI da Covid-19.
A candidata de centro parecia querer chamar a atenção do eleitor de Bolsonaro para as mazelas da atual gestão. E por que ela faria isso? Por que uma parte importante do MDB gostaria de apoiar Lula? “Não, para apenas sinalizar sobre o que acredita”, disseram – à coluna – correligionários da senadora.
Durante o discurso, Tebet falou do MDB quando o partido ainda tinha o P antes das atuais três letras: “[foi a legenda] que ergueu a Constituição Cidadã”. Celebrava acertadamente quem deveria ser comemorado: Ulysses Guimarães, em 1988.
Mas, assim como todos os outros candidatos, teve momentos de infelicidade.
Lembrou que o partido foi o primeiro a defender a Anistia durante a ditadura, o regime militar assassino – amado pelo atual presidente. Sim, Tebet repudiou com veemência a ditadura como todo democrata deve fazer, mas é essa mesma Anistia que faz com que – até hoje – os torturadores não sejam punidos por seus crimes cometidos no exercício da “função pública”.
Bem-vinda a campanha, candidata.