O termo “raposa” na política, usado pelo filósofo italiano Nicolau Maquiavel, que dá nome a esta coluna, em sua obra O Príncipe, não é depreciativo, muito pelo contrário: serve para qualificar alguém astuto, com traquejo suficiente para sobreviver às armadilhas da política.
Na política brasileira, há vários que merecem o epíteto. Um deles é o vereador Milton Leite (União Brasil), que é presidente da Câmara Municipal de São Paulo pela terceira vez e já articula um quarto mandato, mesmo que para isso seja necessário mudar a lei, que hoje o impediria. No comando da Casa, lidera outros 54 vereadores e tem nas mãos um orçamento anual de 1,2 bilhão de reais.
Dono de um reduto eleitoral vastíssimo e valiosíssimo na zona sul, a mais populosa de São Paulo, ele está no sétimo mandato consecutivo como vereador, sempre pelo DEM e depois pelo seu sucessor, o União Brasil. Em 2020, foi reeleito com 132 mil votos, a segunda maior votação da cidade (atrás do petista Eduardo Suplicy, que teve 167 mil).
Com tanto capital político e um hábil articulador nos bastidores, Leite foi peça-chave de todos os últimos governos em São Paulo– e não só municipais. Sua influência política também se estende à Assembleia Legislativa, onde tem um filho, o deputado estadual Milton Leite Filho, e já teve outro, Alexandre Leite, que agora é deputado federal, todos pelo União.
O poderoso vereador foi aliado de todos os governos estaduais do PSDB e agora vem se estranhando com Tarcísio de Freitas (Republicanos) por causa da perda de espaço. Não à toa, já emite sinais de que pode criar dificuldades para a privatização da Sabesp, uma das prioridades de Tarcísio – a estatal tem como seu maior cliente o município de São Paulo.
Milton Leite agora decidiu se arriscar na política do futebol. Acabou de ser indicado candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por André Luiz de Oliveira, conhecido como André Negão, que lidera o grupo de situação no Corinthians, time de maior torcida em São Paulo.
Milton Leite é conselheiro do clube, do qual diz ser associado desde os anos 1970. Na condição de primeiro vice-presidente, ele seria o sucessor natural do presidente em caso de vacância. A chapa é apoiada pelo atual comandante do clube, Duílio Monteiro Alves, e pelo ex-presidente Andrés Sanchez, que é amigo do presidente Lula e já foi deputado federal pelo PT. Esse grupo comanda o clube há dezesseis anos, desde 2007.
O adversário, por ora, é o empresário Augusto Melo, que também terá um personagem político em sua chapa. Um dos candidatos a vice-presidente será Osmar Stabile, ex-vice-presidente do Corinthians e que foi investigado em 2019 por ter patrocinado um vídeo de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e de exaltação à ditadura militar – ele se define como um “entusiasta do contragolpe preventivo”, como chama o golpe de 1964. O vídeo chegou a ser divulgado nas redes oficiais do governo federal.