Depois do relatório da Polícia Federal, divulgado na terça-feira, 26, apontar que Jair Bolsonaro “planejou, dirigiu e executou” o plano de golpe para se manter no poder após perder as eleições de 2022 e que tinha “pleno conhecimento” das orquestrações para assassinar a então chapa presidencial eleita de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente não se calou. Mas, embora tenha se defendido das acusações em declarações à imprensa, nas suas redes sociais ele tem preferido mudar de assunto.
No X, por exemplo, foram doze publicações de Bolsonaro depois das revelações da PF, das quais oito não falam, nem de forma lateral, sobre as acusações. Entre os temas, ele tem postado sobre segurança pública, corrupção, educação e economia sob o governo Lula, entre outros.
Nas postagens, quase sempre compara a gestão atual com a sua, como ao falar de financiamento estudantil. “PT enganou milhões de estudantes” com o Fies, escreveu. “E o Bolsonaro? Perdoou a dívida dos estudantes depois que eles aprenderam a duras penas que de nada adianta ter diploma se não tiver emprego”, continuou.
O ex-presidente também comentou sobre saneamento básico. “Com o Marco do Saneamento Básico, nós tivemos um aumento de 1.000% nos investimentos. São obras para levar água potável e esgoto tratado para quem, no governo do PT, convivia com doenças e mortalidade infantil, sem o mínimo de dignidade”, disse.
Bolsonaro ainda falou sobre uma suspeita de corrupção no fundo de pensão dos Correios e disse que “no governo do presidente Bolsonaro, por outro lado, acabou a roubalheira nas estatais”.
Também citou em um longo post números de seu governo sobre a geração de empregos “depois de uma pandemia e com uma guerra”; sobre comércio exterior, investimento estrangeiro e controle da inflação. No mesmo dia, fez outra publicação criticando a desoneração da folha salarial e o bloqueio de segurados do Benefício de Prestação Continuada.
Nesta quinta-feira, 28, usou a palavra “golpe” para falar do “golpe histórico no tráfico de drogas” durante seu mandato. “Números recordes mostram motivo de tanto ódio a nosso governo e às forças de segurança”, escreveu Bolsonaro antes de elencar os números de apreensão de cocaína de 2001 a 2022.
O tom dos comentários mostra que o ex-presidente continua sonhando com uma eventual candidatura à Presidência em 2026, apesar de estar inelegível. Levantamento do Paraná Pesquisas divulgado na quarta-feira mostra que ele aparece à frente de Lula na corrida ao Planalto.
Manifestações sobre a investigação
Sobre o relatório da Polícia Federal, ele fez duas publicações. Em uma, ele mostra um vídeo do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) criticando o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em 2017. Na outra, questiona a presença de religiosos no inquérito da PF e diz que “estamos cada vez mais próximos da Nicarágua de Ortega”. “O inquérito também cita um frei e outras figuras religiosas por causa de orações, atendimentos espirituais e conversas aparentemente sem nenhum problema que foram transformadas em evidências de uma ‘trama golpista’”, escreveu o ex-presidente.
Ele também republicou falas de jornalistas: uma desqualificando as provas da Polícia Federal contra o ex-assessor Filipe Martins e outra insinuando uma motivação eleitoreira nos inquéritos conduzidos por Moraes.