Rosangela Moro: ‘Quem não concorda com minha candidatura em SP tem medo’
Com o domicílio eleitoral sob questionamento, advogada lavajatista diz que 'corrupção, fome e desemprego, saúde possuem as mesmas carências' em todo o país
A advogada Rosangela Moro tornou-se a principal aposta entre as candidaturas femininas do União Brasil em São Paulo, partido que detém a maior fatia do Fundo Eleitoral. A exemplo do marido — o ex-juiz Sergio Moro, que teve o domicílio eleitoral negado e agora vai se candidatar pelo Paraná — sua campanha também enfrenta questionamentos na Justiça por adversários. Sabendo que a disputa eleitoral em São Paulo deve ter vários candidatos conhecidos por suas trajetórias em outros estados (Marina Silva, ex-senadora pelo Acre, Eduardo Cunha, ex-deputado pelo Rio de Janeiro, e o ex-ministro carioca Tarcísio Gomes de Freitas já anunciaram candidaturas em território paulista), Rosangela diz que o esforço para impedi-la de concorrer ocorre por “medo de me enfrentar nas urnas”. Confira a seguir a entrevista:
A senhora fez carreira na advocacia, principalmente na defesa de pessoas com doenças raras e deficientes, mas isso é muito diferente de atuar no Congresso. Por que considera que está pronta para ser parlamentar? Porque defender as pessoas que fazem parte da minoria não é estar separado ou distante da política. Ao contrário, eu sempre trabalhei com política pública focada no interesse de minorias através das entidades do terceiro setor. Essas entidades fazem o que o Estado tinha que fazer e não faz, eu acredito na iniciativa privada: ela resolve problemas.
Em 2018, houve uma renovação sem precedentes no Congresso Nacional desde a redemocratização, em grande parte levada pelo apoio a Bolsonaro e à Lava Jato. No entanto, hoje muitos grupos que apoiaram a Lava Jato denunciam retrocessos no combate à corrupção. Qual sua opinião? Mesmo com a renovação do Congresso Nacional, sim, tivemos retrocessos, por conta daqueles que sempre odiaram o combate à corrupção e daqueles que usurpam a bandeira da Lava Jato sem nunca defendê-la de fato.
Como a senhora tem respondido aos eleitores que têm dúvidas sobre seu vínculo político com São Paulo? Com muita tranquilidade, porque eu apresentei os documentos para o TRE-SP que deferiu minha transferência de domicilio eleitoral. Eu mantenho vínculos com São Paulo desde 2016. Vínculos profissionais, que foram comprovados pelo tribunal. Quem não concorda com a minha pré-candidatura por São Paulo tem medo de me enfrentar nas urnas. Além disso: corrupção, fome e desemprego, saúde possuem as mesmas carências em São Paulo, Brasília, Mato Grosso e Belém do Pará. A fome que mata em São Paulo, também mata na Bahia. O remédio que não chega no Amapá, também não chega em São Paulo.
O PT já deixou clara sua intenção de tentar impugnar a sua candidatura, e há ainda a possibilidade de ser retomado um inquérito para apurar se houve má-fé no registro do domicílio eleitoral em São Paulo. Qual sua opinião sobre esses questionamentos judiciais e possíveis obstáculos à campanha? Eu estou segura, pois apresentei todos os documentos ao tribunal comprovando meu vínculo com o estado de São Paulo e confio nas instituições. Acho que o PT primeiro deveria se preocupar em se livrar das manchas da corrupção antes de se preocupar comigo.
O presidente do União Brasil já chegou a ser indiciado pela Polícia Federal na Justiça Eleitoral por suposto esquema de candidaturas laranjas em Pernambuco, o que no limite poderia significar desvio de dinheiro das campanhas. Há integrantes do partido, como José Agripino Maia, que já foram denunciados na Lava Jato. O partido está comprometido com o combate à corrupção? Antes de tudo, é importante destacar que todas as pessoas que foram indiciadas pela Lava Jato e, porventura, não sofreram nenhum tipo de sanção foram absolvidas dos processos em que estavam sendo investigadas. Meu partido, assim como todos os outros, têm pessoas das quais não estão comprometidas com a pauta da luta contra a corrupção, no entanto, isso não significa que o partido por completo não está também. Muito pelo contrário, já foi mencionado diversas vezes que todos aqueles que não buscarem um mandato limpo ou uma vida pública idônea não farão parte do União.
Quem apoiaria em um eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro e Lula? Eu acredito em um Brasil que fugirá desse cenário, porque a sociedade brasileira precisa de propostas e soluções e não dessa polarização que não acrescenta em nada ao cidadão. Precisamos lutar para que esse segundo turno não ocorra. Eu estou, ativamente, fazendo isso.
Quais são os setores com os quais a senhora tem conversado? Alguma entidade já pediu apoio a algum projeto, já se comprometeu com alguma pauta em especial? Entidades do terceiro setor e algumas entidades que desempenham trabalhos voltados para outras pautas que acredito — Santas Casas, Educação especial, violência contra as mulheres, entidades de pessoas desaparecidas, doenças raras, corrupção. Também me dispus a aderir à pauta do Vem Para Rua e do Movimento 200+ (que tem a meta de eleger 200 candidatos comprometidos formalmente com medidas de combate à corrupção). Além disso, eu estou aberta a ouvir para conhecer e entender novas pautas de outros setores e segmentos da sociedade. Minha intenção é coordenar debates para implementação de melhorias.