Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, balança no cargo, fustigado pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, um outro médico ligado à atual gestão, o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, cresce o olho para o cargo. E tem um grande trunfo nas mãos: é exatamente o oposto do atual titular da pasta quando o assunto é o isolamento social para combater o avanço do coronavírus, o que soa como música para o chefe do Executivo federal.
Mandetta bateu de frente com Bolsonaro principalmente por causa da questão da quarentena ampla, que o ministro e as principais autoridades de saúde do mundo defendem, entre elas a Organização Mundial da Saúde (OMS), que lidera os esforços mundiais de combate à pandemia. Bolsonaro prefere flexibilizar o isolamento social por acreditar que isso vai “quebrar” a economia do país e provocar caos social, o que pode ferir de morte o seu governo.
Osmar Terra concorda com ele. Nesta sexta-feira, 3, por exemplo, retuitou um vídeo de carreata em Natal (RN), descrita por um seguidor como o “povo na rua reivindicando o direito de trabalhar para sobreviver”. Um dia antes, compartilhou reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre a queda no número de fretes em razão da quarentena e comentou: “Começam a se agigantar as consequências econômicas devastadoras de uma quarentena inócua”.
A defesa do fim da quarentena, aliás, é praticamente o tema único na rede social do ex-ministro (veja este e outros tuítes abaixo).
Na quarta-feira, Osmar Terra foi convidado – e, simbolicamente, Mandetta não – para uma reunião com Bolsonaro no Palácio do Planalto onde se discutiu o isolamento social e o uso da cloroquina para tratamento do coronavírus. Entre os participantes, estavam médicos do Hospital do Coração, do Hospital das Clínicas e do Albert Einstein, todos de São Paulo. Só Bolsonaro e Osmar Terra defenderam o fim da quarentena e se entusiasmaram com o medicamento, cuja eficácia no combate ao vírus ainda é alvo de estudos científicos.
Osmar Terra, como Mandetta, é médico e foi secretário estadual da Saúde do Rio Grande do Sul. No governo Jair Bolsonaro foi ministro da Cidadania até fevereiro deste ano, quando foi trocado por Onyx Lorenzoni em uma minirreforma administrativa promovida pelo presidente.
Na pasta, defendeu teses conservadoras, como a oposição ao uso da maconha medicinal. Ele liderou a resistência na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que terminou rejeitando, por 3 votos a 1, o plantio de maconha para uso medicinal – apenas a comercialização de produtos à base de canabidiol foi autorizado.
Curiosamente, o presidente da Anvisa, almirante Antônio Barra Torres, que pensa como ele e também é conselheiro de Bolsonaro, é o seu principal adversário hoje na corrida pela cadeira de Mandetta.
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Já ouviu o podcast “Funcionário da Semana”, que conta a trajetória de autoridades brasileiras? Dê “play” abaixo para ouvir a história, os atos e as polêmicas do ministro Luiz Henrique Mandetta. Confira também os outros episódios aqui.
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