Bioma mais devastado ao longo dos séculos no Brasil, a Mata Atlântica perdeu no ano passado ao menos o equivalente a 10 mil campos de futebol e está sob risco de viver uma aceleração do desmatamento. Uma lei aprovada no Congresso na última semana de 2021 repassou aos municípios a responsabilidade para definir o tamanho das Áreas de Proteção Permanente (APPs) às margens de rios em áreas urbanas, o que na prática entrega a prefeituras e câmaras municipais o poder de reduzir as matas ciliares.
No ano passado, o Mato Grosso do Sul foi o campeão de desmatamento do bioma, com mais de 4 mil hectares – ou 37% de toda a área desmatada –, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica, a empresa de georreferenciamento Arcplan e a ONG Mapbiomas. Segundo o boletim da fundação, mais de 90% do desmatamento no bioma está relacionado à expansão da agropecuária.
Sete dos dez municípios com os maiores desmatamentos de mata Atlântica estão no Mato Grosso do Sul. Nioaque ficou na liderança entre as cidades que mais devastaram, com 1.314 hectares de vegetação destruídos. Embora predomine no Sudeste e no Sul, o bioma está em quatro das cinco regiões brasileiras, e a área de aplicação da Lei da Mata Atlântica se estende pelo interior de estados no Nordeste e partes do Centro-Oeste.
O relatório da SOS Mata Atlântica reúne alertas de desmatamento coletados durante todo o ano de 2021 em bacias hidrográficas de cinco rios: Tietê (São Paulo), Iguaçu (Paraná), Jequitinhonha (Bahia e Minas Gerais) e Miranda e Aquidauana (Mato Grosso do Sul). O Paraná concentra mais da metade da quantidade de alertas nas áreas prioritárias do monitoramento, mas são focos menores do que aqueles encontrados no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais, o que coloca esses dois estados na liderança do desmatamento. Na bacia de Miranda e Aquidauana, os desmatamentos têm tamanho médio de 309 hectares, mais de dez vezes maiores do que na região Sul.