A ofensiva da Polícia Federal sobre um esquema de arapongagem criminosa montado durante o governo de Jair Bolsonaro já tem uma “vítima” quase fatal: a candidatura a prefeito do Rio de Janeiro do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O relatório da PF, tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, após o cumprimento de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira, 11, mostram fortes evidências de que o órgão comandado por Ramagem era o epicentro de um esquema criminoso de monitoramento ilegal de autoridades públicas, jornalistas e adversários políticos – leia matéria aqui.
Homem de confiança da família Bolsonaro, Ramagem foi bancado pelo clã como candidato a prefeito do Rio de Janeiro, com o apoio do governador Cláudio Castro (PL), mas vem enfrentando dificuldades: a menos de três meses da votação, tem apenas 7% das intenções de voto, empatado tecnicamente com o deputado Tarcísio Motta (PSOL), que tem 9%, e muito atrás do prefeito Eduardo Paes (PSD), que tem 53%, tudo segundo o último Datafolha.
Passeio no calçadão
A aposta dele era colar cada vez mais na imagem de Bolsonaro, tanto que planejava com ele um roteiro de três dias de campanhas nas ruas na próxima semana, entre os dias 18 e 20, começando por um passeio no Calçadão de Campo Grande, tradicional ponto de comércio popular na zona oeste do Rio.
A estratégia já tinha se complicado com o indiciamento de Bolsonaro no caso das joias sauditas – a PF acusa o presidente de três crimes (associação criminosa, desvio de bens públicos e lavagem de dinheiro, o que não é pouca). Preocupado com o impacto disso, Ramagem gravou imediatamente um vídeo de onze minutos no qual tenta amenizar as acusações imputadas ao presidente e acusa a PF de comportamento político.
Poucos dias depois, é ele quem está no alvo da PF – e não se sabe ainda até onde irão os desdobramentos dessa investigação.
Talvez não seja, para ambos, o melhor momento para um passeio no calçadão.