País de apenas 804.000 habitantes – menos da metade da população de Caracas, por exemplo –, a Guiana entrou na mira do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que quer anexar mais de 60% do território do país vizinho. A ameaça deve aumentar a partir do domingo, 3, quando os venezuelanos irão às urnas em referendo para dizer se apoiam ou não a pretensão de seu dirigente.
Mas por que Maduro quer anexar parte da Guiana? A reivindicação territorial da Venezuela não é nova, mas cresceu nas últimas semanas em razão de dois fatores: a proximidade das eleições no país, em 2024, e o boom econômico do vizinho na esteira do avanço da exploração de petróleo.
O alvo da cobiça é a região de Essequibo, uma área de 160 mil quilômetros quadrados formada em sua maioria por uma densa floresta cortada por rios caudalosos, que faz fronteira com Roraima e que representa dois terços do território da Guiana. A posse da região foi concedida em 1899 à Guiana, à época uma colônia inglesa, por meio de arbitragem feita pelos Estados Unidos. A Venezuela questiona desde então a decisão e, em 1966, chegou a firmar um acordo com a Inglaterra, que reconhecia como nulo o Laudo Arbitral. Naquele mesmo ano, no entanto, a Guiana conquistou a independência, o que na prática manteve o acordo em suspenso até hoje.
Além do claro interesse eleitoral, o recrudescimento da disputa de quase dois séculos tem um outro motivo. O interesse de Maduro se ampliou nos últimos anos com as descobertas de petróleo no litoral da região, cujo potencial ultrapassa 11 bilhões de barris. O petróleo fez com que a economia do país quadruplicasse nos últimos cinco anos.
No ano passado, o crescimento do PIB de 62% foi o maior do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (veja quadro na pág. 40). A previsão é de alta de 38% neste ano e de 45% em 2024. O pequeno país sul-americano caminha a passos largos para ultrapassar o Kwait e se tornar o de maior produtor petróleo per capita do mundo. A expectativa da companhia americana Exxon Mobil, que explora petróleo no litoral da Guiana, é bombear 1,3 milhão de barris do fundo do mar por dia até 2027.
O petróleo explorado na Guiana é semelhante ao que é retirado na Venezuela, o que aumentou o interesse do regime de Nicolás Maduro de anexar Essequibo, onde está a maior parte da produção do vizinho. A tentativa de anexação, no entanto, já provoca reação de potências como o Reino Unido – até 1966 a Guiana era uma colônia britânica –, dos Estados Unidos e da França – leia aqui sobre as reações de Joe Biden e de Emmanuel Macron.
Reportagem de VEJA desta semana mostra como a movimentação de Maduro virou um grande problema para Lula, que é o principal aliado na região do regime chavista.