Quase dezoito anos depois de sair de camburão de sua casa em Jacareí (SP), o ex-árbitro de futebol Edílson Pereira de Carvalho tem uma dívida de 495.000 reais com a Federação Paulista de Futebol (FPF), sua antiga contratante. Pivô do esquema conhecido como “máfia do apito”, revelado por VEJA em 2005, Carvalho, que nunca mais voltou a apitar um jogo profissional, foi condenado a pagar uma indenização de 35.000 reais, a título de danos morais, dois anos depois. Sem quitar o débito, viu o montante ser multiplicado por catorze.
Em março passado, o juiz Luiz Gustavo Esteves, da 11° Vara Cível de São Paulo, determinou a expedição de ofícios à Superintendência de Seguros Privados (Susep) e à Confederação Nacional de Empresas Privadas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (Cnseg) para que elas informem se Edílson possui algum plano de previdência privada que possa ser penhorado. A resposta dos dois órgãos foi negativa.
Antes disso, a defesa da Federação Paulista, realizada pelo escritório do ex-dirigente da entidade e ex-presidente da CBF Rogério Caboclo, tentou buscas em bancos como o Itaú, mas a resposta foi que não havia nenhum centavo na conta do ex-árbitro, que está bloqueada por determinação do magistrado Esteves. “O executado simplesmente abandonou sua obrigação de quitar sua dívida, deixando a cargo do exequente e do Judiciário a fatídica responsabilidade de localizar bens que supostamente estejam em seu nome, em nítida fraude à execução. Muitos anos já se passaram e nada foi recebido pelo exequente a corroborar com o famoso jargão popular ‘ganha mais não leva'”, afirma o escritório do advogado Ricardo Di Giaimo Caboclo.
A “máfia do apito”.
Em 28 de setembro de 2005, VEJA revelou o maior escândalo já visto no futebol brasileiro: em conluio com empresários, dois juízes – um deles árbitro da Fifa — fraudavam resultados de partidas para lucrar com apostas. A reportagem revelou como um grupo de empresários, donos de bingos em São Paulo e Piracicaba, e os árbitros Edílson Pereira de Carvalho — então pertencente aos quadros da Fifa — e Paulo José Danelon operavam com o objetivo de manipular partidas de futebol do Campeonato Brasileiro e do Paulista. Com os resultados acertados com o juiz, a quadrilha lucrava em apostas milionárias em sites de jogatina na internet.
Segundo o Gaeco, o grupo teria amealhado com as fraudes mais de 1 milhão de reais em seis meses.”É o maior golpe na paixão dos brasileiros pelo futebol e um escândalo de repercussão internacional”, definiu a reportagem.