O jornal americano The New York Times, um dos mais influentes do mundo, publicou reportagem em seu site nesta segunda-feira, 25, mostrando vídeos nos quais o ex-presidente Jair Bolsonaro entra na Embaixada da Hungria, em Brasília, onde teria ficado por duas noites, logo após ter tido o seu passaporte apreendido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no dia 8 de fevereiro.
Quatro dias depois, segundo o Times, Bolsonaro estava na entrada da Embaixada da Hungria no Brasil, esperando para entrar, de acordo com imagens da câmera de segurança da representação diplomática. Momentos antes de sua chegada, imagens de segurança mostram Miklós Halmai, embaixador do país no Brasil, andando e digitando em seu telefone. A pequena embaixada estava praticamente vazia, exceto por alguns diplomatas húngaros que lá vivem, segundo relato do jornal. Os funcionários locais estavam de férias porque a estadia ocorreu no meio das celebrações do Carnaval nacional do Brasil.
Às 21h34, segue o relato do NYT, um carro preto apareceu no portão da embaixada. Um homem saiu batendo palmas para chamar a atenção de alguém lá dentro. Três minutos depois, Halmai abriu o portão e indicou onde estacionar. O ex-presidente, diz o jornal, pareceu ficar na embaixada durante os dois dias seguintes, como apontam as filmagens, acompanhado por dois seguranças e servido pelo embaixador húngaro e por membros da equipe.
O Times analisou imagens de três dias de quatro câmeras na Embaixada da Hungria, mostrando que Bolsonaro chegou na noite de segunda-feira, 12 de fevereiro, e partiu na tarde de quarta-feira, 14 de fevereiro. O jornal verificou as imagens comparando-as com as da embaixada, incluindo imagens de satélite que mostravam o carro em que Bolsonaro chegou, estacionado na garagem em 13 de fevereiro.
O diário americano lembrou que Bolsonaro, alvo de diversas investigações criminais, não pode ser preso em uma embaixada estrangeira que o esteja acolhendo, porque está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais.
Sintonia com a extrema direita
A estadia na embaixada, continua o Times, sugere que o ex-presidente estava tentando alavancar a sua amizade com um colega líder da extrema direita mundial, o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, numa tentativa de escapar ao sistema de Justiça brasileiro enquanto enfrenta investigações criminais, como as da tentativa de golpe de Estado, do caso das joias sauditas e da falsificação da carteira de vacinação.
Bolsonaro chamou Orbán de seu “irmão” durante uma visita à Hungria em 2022. Mais tarde naquele ano, o ministro das Relações Exteriores da Hungria perguntou a um funcionário do governo Bolsonaro se a Hungria poderia fazer alguma coisa para ajudar a reeleger Bolsonaro, de acordo com o governo brasileiro. Em dezembro, Bolsonaro e Orbán se reuniram em Buenos Aires na posse do novo presidente de direita da Argentina, Javier Milei. Lá, Orbán chamou Bolsonaro de “herói”.
Veja aqui a íntegra da reportagem.