O risco iminente de um desastre ambiental de grandes proporções em Maceió, com a possibilidade de afundamento do solo em razão da exploração de sal gema feita no subsolo pela companhia Braskem, já gerou uma dramática situação humanitária, com mais de 55.000 pessoas sendo obrigadas a abandonar seus imóveis – muitas delas de forma urgente e sob ordem judicial.
A tragédia também já repercute forte na política e chegou a Brasília rapidamente nas últimas horas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo em viagem ao exterior, está acompanhando a situação, pediu empenho total do vice Geraldo Alckmin e já marcou uma reunião com o governador Paulo Dantas (MDB) na próxima terça-feira, 5.
Alckmin determinou a ida de três ministros para o estado para tratar do assunto: Waldez Góes (Integração Regional), Welington Dias (Desenvolvimento Social) e Renan Filho (Transportes) – este é senador eleito pelo estado e ex-governador. Técnicos do Ministério de Minas e energia, da Defesa Civil e do Serviço Geológico do Brasil também foram enviados à capital de Alagoas.
“O cenário é grave, estamos falando de abalos sísmicos, bairros afundando, consequências de um possível crime socioambiental. O ministério está atento para acompanhar de perto a situação e prestarmos a assistência necessária para ajudar no que for preciso”, disse Wellington Dias. “A Braskem precisa ser responsabilizada civil e criminalmente pelo crime ambiental cometido em Maceió, garantindo a reparação aos danos materiais e ambientais causados aos maceioenses”, já anunciou Renan Filho.
O governo federal vem sendo pressionado por vários lados a entrar na resolução do problema, que se arrasta desde 2018. Uma das pressões é de peso, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “A grave crise ambiental, humana e estrutural em Maceió precisa de um amparo urgente do governo federal. Solicitei aos órgãos responsáveis a viabilização de recursos e a edição de medida provisória que garantam à prefeitura de Maceió condições de atendimento aos moradores atingidos e de empreender ações para combater o problema gerado pela exploração do sal gema”, disse.
Seu arquirrival no estado, e também um nome influente no Congresso, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) também mandou um recado a Lula. “A situação em Maceió se agrava depois do crime ambiental da Braskem, o maior em área urbana do mundo. A população não está suficientemente informada e, por isso, o governo federal precisa ajudar o estado!”, afirmou. Ele é autor de um pedido de CPI da Braskem, que aguarda para ser votada desde setembro, mas deve ganhar tração na próxima semana e finalmente sair do papel.
Renan x Lira
Além da pressão sobre o governo e da provável politização nacional da crise com a instalação da CPI, o episódio também serviu para acirrar velhas rixas entre grupos políticos locais, comandados por Renan e Lira.
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), aliado de Lira, vem sendo criticado por ter firmado um acordo bilionário com a Braskem para receber 1,7 bilhão de reais pelos danos ambientais provocados pela empresa.
Na quinta-feira, ele reuniu a bancada federal do estado para pedir ajuda. “Esse é um momento de união, é um momento de preservar vidas. Depois do nosso plano de contingência já houve evacuação das pessoas e é importante dizer que não podemos cair em fake news”, disse JHC, como é conhecido. Arthur Lira estava presente na reunião. “Quem tiver de pagar pelo errado, pagará. Estamos trabalhando para tudo que possa vir acontecer”, disse o presidente da Câmara.
De quebra, JHC disse que tentou falar com o governador Paulo Dantas, seu adversário, mas que não conseguiu porque o governador “estava em trânsito”. Dantas é aliado de Renan e teve o apoio de Lula na eleição de 2022. “Recebi agora uma mensagem do presidente Lula de que nos reuniremos para tratar sobre o desastre ambiental da Braskem assim que ele retornar da COP28 (…) Trabalharemos juntos para proteger e reparar as vítimas”, disse.
O senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), que perdeu a eleição para Dantas em 2022 e também é próximo a Lira, foi até Alckmin pedir a intervenção do governo federal. “Estamos buscando a atenção total desse país, para um assunto que mexe com a parte ambiental, social, que mexe com o psicológico. É momento de unificação, entre União, estado e município, e não retrabalhos”, disse.