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Igreja evangélica recebe R$ 3,7 milhões em propaganda do governo Bolsonaro

Sara Nossa Terra, fundada e liderada por um ex-deputado, leva mais verba de publicidade oficial do que emissoras tradicionais como Cultura, ESPN e Discovery

Por Caíque Alencar Atualizado em 1 dez 2021, 12h54 - Publicado em 1 dez 2021, 07h00
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  • Em quase três anos de governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a igreja evangélica Sara Nossa Terra recebeu cerca de 3,7 milhões de reais para a divulgação de publicidade do governo federal. Os dados são da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, que mostram que a TV Gênesis, como é chamada a emissora da igreja, é a campeã entre as TVs religiosas que receberam verba pública para a exibição de propaganda governamental.

    Sem considerar os canais tradicionais, como Globo, SBT, Record, RedeTV! e Band, que lideram o ranking por conta de terem mais audiência, a TV Gênesis fica à frente de veículos mais conhecidos como TV Cultura, TV Gazeta, ESPN, Discovery, Sony, Fox, e Disney (veja quadro abaixo).

    Desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a Presidência, a emissora da Sara Nossa Terra já recebeu pagamentos para divulgação de campanhas como as de conscientização e vacinação contra o coronavírus (846,6 mil reais), combate ao mosquito da dengue (740,8 mil reais) e vacinações contra o sarampo (300 mil reais) e o Influenza (168,9 mil reais).

    Fiéis durante celebração de culto na igreja Sara Nossa Terra
    Fiéis durante celebração de culto na igreja Sara Nossa Terra (Sara Nossa Terra/Divulgação) (Divulgação/Divulgação)
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    A maior parte do valor recebido pela igreja foi paga nos dois primeiros anos (3,248 milhões de reais em 2019 e 2020). Neste ano, o governo Bolsonaro tem reduzido a verba para emissoras religiosas, como mostrou reportagem de VEJA, ao mesmo tempo em que aumentou os repasses para a Globo, que é considerada “inimiga” pelo presidente.

    Aliada de Bolsonaro e de Dilma

    Fundada em 1992 pelo bispo Robson Rodovalho e sua mulher, Lúcia Rodovalho, a Sara Nossa Terra tem sede em Brasília e segue a doutrina da teoria da prosperidade, vertente religiosa que defende, em linhas gerais, que os fiéis podem aumentar a sua riqueza material de forma proporcional às doações que fazem à igreja. Entre os seus fiéis mais célebres está o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, preso pela Lava-Jato.

    A bispa Lúcia Rodovalho, fundadora da igreja Sara Nossa Terra
    A bispa Lúcia Rodovalho, fundadora da igreja Sara Nossa Terra (Sara Nossa Terra/Divulgação) (Sara Nossa Terra/Divulgação)
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    Atualmente, a Sara Nossa Terra é apoiadora do presidente Jair Bolsonaro. Em 2010, no entanto, o bispo Rodovalho também já foi aliado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que à época mantinha encontros frequentes com lideranças evangélicas.

    “Eu apoio a presidente Dilma Rousseff por uma simples razão. Ela foi a única candidata a presidente da República nessas eleições que se comprometeu conosco a permitir que o Congresso Nacional legisle sobre as bandeiras da vida, da família e da igreja”, disse Rodovalho em vídeo gravado em setembro daquele ano, no qual discursava para seus seguidores.

    Em 2016, último ano completo em que Dilma esteve cadeira da presidência, a Sara Nossa Terra recebeu 1,1 milhão de reais do governo para divulgação de propaganda. No seguinte, com Michel Temer, a arrecadação caiu para 44,4 mil reais, voltando a subir em 2018, para 717,8 mil reais – somados os três anos, o aporte repassado à igreja foi de 1,9 milhão de reais.

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    Mandato cassado

    Também em 2010, o bispo Rodovalho foi o protagonista de uma polêmica no âmbito da Justiça Eleitoral. Em agosto daquele ano, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o seu mandato de deputado federal por infidelidade partidária. Ele havia sido eleito em 2006 pelo DEM, mas deixou a sigla no fim de 2009 para se filiar ao PP, pelo qual disputou sem sucesso a reeleição. O mandato de Rodovalho foi cassado devido a uma ação de autoria de seus dois suplentes à época, Izalci Lucas e Osório Adriano.

    Nota

    Em nota enviada a VEJA, a Sara Nossa Terra diz que o dinheiro recebido é relativo à venda de espaços publicitários e que isso é uma prática normal em todas as emissoras, que, afirma, cobram “valores infinitamente maiores”.

    “A Rede Gênesis de Televisão, que atinge mais de três mil municípios em quase todos os estados do país, em suas respectivas tecnologias, comercializa seu horário publicitário a quem interessar, inclusive, a Secom, como qualquer veículo de comunicação”, afirma.

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    Ainda segundo a igreja, a emissora chama a atenção apenas pelo fato de ser evangélica. “A rede Gênesis informa que seguirá sua missão no trabalho de produzir uma programação voltada a família e fiel a seus objetivos”, diz.

     

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