O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convocado para prestar depoimento na CPI do BNDES, que apura irregularidades na concessão de empréstimos e desvios de recursos no banco estatal e desconvocado na mesma tarde, menos de uma hora depois, após um estridente protesto dos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Paulo Rocha (PT-AP), que não estavam presentes na hora da votação.
O requerimento havia sido proposto pelo senador Lasier Martins (PSD-RS), que justificou a convocação dizendo que o ex-presidente é “constantemente citado em diversas delações premiadas como o coordenador de articulações pouco transparentes em relação às concessões de empréstimos via BNDES a empreiteiras investigadas no esquema do chamado petróleo, para a realização de obras no exterior”.
“As operações se destinavam, sobretudo, a nações sem apego à democracia e, não raro, alinhadas ideologicamente com o governo brasileiro de então, num suposto esquema de direcionamento de recursos subsidiados, em troca de favores financeiros eleitorais e pessoais, como a suspeita de financiamento do instituto comandado pelo ex-presidente, por meio de palestras, segundo investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato”, disse Martins.
O mesmo Lasier aprovou requerimentos para convocar para depor o ex-ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff (PT), Guido Mantega (que também presidiu o BNDES), e Luciano Coutinho, outro ex-presidente do banco estatal no governo petista.
Lindbergh, que chegou depois da aprovação, atacou duramente o presidente da CPI, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), por ter colocado os requerimentos em votação sem que isso estivesse na pauta de convocação da CPI.
“Vossa Excelência passou por cima do regimento para criar um fato político em cima do presidente [sic] Lula na véspera de ele prestar depoimento”, disse, em referência à audiência do petista com o juiz Sergio Moro, em Curitiba, nesta quarta-feira, em processo que apura se dinheiro de propina da Odebrecht bancou um terreno para o Instituto Lula – que nunca foi usado – e um apartamento vizinho ao que Lula mora, em São Bernardo do Campo.
“Vossa Excelência está dando um golpe”, atacou. Alcolumbre respondeu: “Essa é uma palavra que está na boca de Vossa Excelência há alguns meses já”, disse o senador, que, ao final, concordou – de “forma excepcional”, salientou – em aprovar outro requerimento, de Lindbergh, para desconvocar Lula. As convocações de Mantega e Coutinho foram mantidas.