O humorista e apresentador de TV Fábio Porchat está apanhando muito nas redes sociais desde a noite de terça-feira, 16, quando decidiu criticar uma decisão judicial contra o também comediante Léo Lins. A Justiça de São Paulo mandou retirar do YouTube o show de stand-up “Perturbador” e proibiu Lins de fazer piadas com “conteúdo depreciativo ou humilhante em razão de raça, cor, etnia, religião, cultura, origem, procedência nacional ou regional, orientação sexual ou de gênero, condição de pessoa com deficiência ou idosa, crianças, adolescentes, mulheres, ou qualquer categoria considerada como minoria ou vulneráveis”. O vídeo tinha mais de 3 milhões de visualizações.
“Isso aqui é uma vergonha! Inaceitável!”, postou Porchat no Twitter na terça-feira ao comentar a decisão da Justiça. O post atingiu mais de 5 milhões de visualizações e gerou quase 9.000 comentários, a grande maioria com críticas a Porchat.
Muitos disseram que Porchat era um dos responsáveis pela situação porque ele havia supostamente se rendido ao “politicamente correto” ao fazer mea culpa sobre piadas que ele mesmo havia feito – chegou a dizer que era um “racista em desconstrução” – e por ter apoiado a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2022, o que lhe rendeu o rótulo de “esquerdista” nos comentários e pedidos de “faz o L”.
Após apanhar muito, Porchat decidiu voltar ao Twitter para defender a sua posição. “Não gosta de uma piada? Não consuma essa piada. Se a piada não incitou o ódio e a violência ela é só uma piada. Tem piada de todos os tipos, de pum e de trocadilho, ácida e bobinha. Tem piada de mau gosto? Tem também. Tem piada agressiva? Opa. Mas aí é só não assistir. Quem foi lá assistir ao Léo Lins adorou. Riram muito. Quem não gostou das piadas são os que não foram. Pronto, assim que tem que ser”, disse.
https://twitter.com/FabioPorchat/status/1658862006781329408?s=20
Porchat também defendeu o direito de Léo Lins fazer piadas com qualquer um. “Ah, mas faz piada com minorias… E qual o problema legal? Nenhum. Dentro da lei pode-se fazer piada com tudo tudo tudo. Não gostar de uma piada não te dá o direito de impedir ela de existir. Ainda mais previamente. Impedir o comediante de pensar uma piada é loucura. Mesmo que você não goste desse comediante, mesmo que você despreze tudo o que ele diz, ele tem o direito de dizer. Ele tem o direito de ofender. Não existe censura do bem. Se cada pessoa que se ofender com uma piada resolver tirar ela do ar não sobra um Joãozinho, um papagaio, um argentino”, postou.
Polêmicas
A carreira de Léo Lins é marcada por polêmicas – não foi a primeira vez que ele foi alvo de uma ação judicial. No vídeo retirado do ar, por exemplo, ele cita “um ranking de privilégios que existe hoje na sociedade”. “Na base, está o velho. Em cima, está o nordestino pobre. Depois dele, está a mulher grávida, que tem assento especial. Em cima dela, está o gordo que também já tem assento especial. O gordo é uma grávida que se autoengravidou. Em cima do gordo, está o deficiente que tem assento, não pega fila. A prova disso é que um velho nordestino, gordo e deficiente virou presidente”, afirma.
Ele também já fez piadas consideradas preconceituosas com autistas, judeus, portadores de necessidades especiais, gordos e negros. “Negro não consegue achar emprego, mas na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim”, contou em um de seus stand-ups.
No ano passado, ele foi demitido do SBT (ele integrava o programa The Noite, de Danilo Gentilli) após fazer uma piada sobre portador de hidroencefalia no Teleton, tradicional campanha promovida pela emissora para arrecadar fundos para entidades beneficentes. “Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço”, foi a piada que ele contou no programa.