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Coronavírus: dispensa de diaristas reaviva preconceito contra classe média

Cegadas pelo vírus da demagogia, algumas pessoas acusam nas redes sociais os mais ricos de quererem distância dos mais pobres para se protegerem da doença

Por Da Redação Atualizado em 30 jul 2020, 19h05 - Publicado em 17 mar 2020, 16h23
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  • O Brasil entrou na crise do coronavírus pelo andar de cima. Nos primeiros dias, boa parte dos infectados pertencia à classe média ou classe média alta, gente que havia viajado há pouco tempo para o exterior (principalmente Europa) ou tomado contato com quem veio de fora. Essas pessoas contam com bons planos de saúde para realizar testes e, quando necessário, procuram tratamento na rede particular (o Albert Einstein, em São Paulo, um dos melhores e mais caros hospitais do Brasil, concentra uma quantidade considerável de casos).

    Devido ao desafio de frear a velocidade de expansão da contaminação neste momento, as rotinas dos brasileiros começaram a ser afetadas e, com muita gente aconselhada a se resguardar em casa, começou a pegar fogo no país o debate sobre o que fazer agora com diaristas, cuidadores e trabalhadores domésticos. Os velhos preconceitos contra a classe média voltaram a aparecer nas redes sociais com a decisão de muitas famílias de dispensarem essa classe de trabalhadores de suas rotinas como forma de contribuir para diminuir os riscos de explosão da Covid-19.

    Erroneamente, vários enxergaram na atitude uma repulsa explícita dos ricos contra os pobres, um muro para que a classe de baixo não contamine com o vírus os patrões e patroas. A lógica da medida vai justamente na direção contrária: ela protege principalmente as diaristas, cuidadores e empregados domésticos, que deixam de ser obrigados a circular todos os dias pela cidade e, principalmente, ficam livres das famílias que têm o perfil do grupo mais infectado pelo coronavírus até o momento.

    Uma proposta que vem se disseminando é a de manter o máximo possível esses trabalhadores em suas casas, sem prejuízo dos seus rendimentos. É uma atitude sensata e solidária. Se a doença chegar com força às parcelas mais desprotegidas da população, haverá uma explosão na procura pela rede pública de saúde, com os impactos que se pode imaginar em uma rede já saturada e com tantos problemas. Usar a preocupação em torno da Covid-19 para insuflar a luta de classes ofende a lógica e  contamina a discussão com o vírus da demagogia.

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