O ataque de criminosos fortemente armados a uma agência do Banco do Brasil em Criciúma, no sul de Santa Catarina, entre a noite de segunda-feira e esta terça-feira, 1º, seguiu um padrão já visto em outros megarroubos semelhantes, tanto na execução do crime quanto na escolha do local, uma cidade média do interior.
No intervalo de pouco menos de um ano, ao menos outras três cidades com porte semelhante ao do município catarinense, que tem 217.311 habitantes, tiveram assaltos parecidos: Araraquara (SP, 238.339 habitantes), no último dia 24 de novembro; Botucatu (SP, 148.130 habitantes), em dezembro de 2019 e julho de 2020; e Ourinhos (SP, 114.352 habitantes), em maio deste ano.
O expediente dos bandidos foi similar em todos os casos. Equipados com roupas especiais, coletes à prova de balas e metralhadoras, quadrilhas com 30 a 40 criminosos chegam às cidades a bordo de diversos carros roubados, fuzilam batalhões da Polícia Militar com armas de grosso calibre para impedir que os agentes se aproximem do local do crime, fazem disparos para intimidar a população, interditam vias de acesso e explodem caixas eletrônicos. Depois de cerca de três horas, os bandidos fogem com o dinheiro e abandonam os carros usados nos roubos em outras localidades.
Especialistas observam que, como se trata de um crime que demanda altos investimentos em “mão de obra” e equipamentos, os criminosos tendem a buscar alvos mais vulneráveis, como cidades do interior dos estados, para diminuir riscos.
“Eles terão que pagar muita gente, terão despesas, então tem que ser um lugar com bastante dinheiro, em primeiro lugar. Em Criciúma, se deixaram mais de 800.000 reais pra trás, é porque levaram um valor muito alto. Os lugares também são escolhidos pela facilidade: se dá para entrar e pegar o dinheiro, se tem polícia suficiente para barrá-los, se será possível manter a polícia longe do local do crime, se tem rotas de fuga”, diz Guaracy Mingardi, analista criminal.
Mingardi lembra que assaltos a banco com essa dinâmica começaram a ser feitos por criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), há cerca de três anos, mas que a prática pode ter se disseminado entre outros grupos criminosos, não necessariamente relacionados à maior facção do país.
“Quem tinha ‘know-how’ nesse tipo de crime era o PCC, que fez os primeiros e pode ter transferido a outros criminosos. Não é algo simples, precisa saber como executar, escolher o local, as pessoas, ter o equipamento, o armamento, e roubar vários veículos para usar. Nos crimes ligados ao PCC, por exemplo, a facção fornecia armas e apoio logístico”, diz o analista. Ele aponta também a diferença entre o arsenal de guerra dos criminosos e o das polícias. “A PM não pode usar metralhadora .50, não usa armamento de guerra, porque pode causar a morte de inocentes. Os bandidos não se importam com isso”.
No ataque em Criciúma, um policial militar foi baleado, passou por cirurgias e está em estado grave. Até o momento, nenhum dos criminosos envolvidos no assalto em Criciúma foi detido. Segundo o governador catarinense, Carlos Moisés (PSL), forças de segurança estaduais tentam identificar os bandidos com apoio de polícias de outros estados e órgãos federais.