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Chanceler demite diplomata que o apresentou a Olavo de Carvalho

Avesso a críticas de colaboradores, Ernesto Araújo impõe ideologia de direita no Itamaraty e ganha apelido de Beato Salu

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 2 jan 2019, 23h43 - Publicado em 2 jan 2019, 17h16
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  • Seis dias antes da posse de Jair Bolsonaro, o então futuro chanceler Ernesto Araújo demitiu seu primeiro colaborador direto. O alvo foi Nestor Forster Júnior, o diplomata que lhe apresentara em Washington ao ideólogo do novo governo, Olavo de Carvalho, e a quem havia designado como chefe de gabinete.

    Forster caiu por ter sido sincero e expressado ao novo chanceler, por telefone, seu descontentamento com a truculência de Araújo com os seus colegas diplomatas. Araújo irritou-se com a ousadia de Forster e não apenas brigou com ele, como o dispensou da função que não chegara a assumir. Sua nomeação para o cargo de chefe de gabinete fora publicada na forma de portaria do Itamaraty no Diário Oficial da União (DOU) em 19 de dezembro. Com o desentendimento, novo texto foi publicado no DOU em 26 de dezembro para “tornar insubsistente” a decisão anterior. Dois outros diplomatas que trabalhariam com Forster no Itamaraty já foram substituídos por outros.

    Ministro de segunda classe na carreira diplomática, Forster continuará a trabalhar na embaixada do Brasil em Washington. Considerado como um “facilitador” do contato de Araújo com Carvalho, ele fazia parte de um pequeníssimo grupo de diplomatas que compartilhavam das ideias do filósofo de extrema direita.

    O episódio confirmou a indisposição de Araújo em ouvir críticas ou visões diferentes das suas até mesmo de colaboradores que lhe seriam fieis. Sua intransigência e seu pensamento religioso e de extrema direita, exposto especialmente em artigos para jornais e revistas, levaram os diplomatas a apelidá-lo de Beato Salu. Trata-se do personagem da novela Roque Santeiro, do dramaturgo Dias Gomes — um fanático religioso que atrai romeiros por sua pregação à cidade fictícia de Asa Branca.

    No Itamaraty, o pensamento de Araújo tornou-se conhecido apenas quando nomeado chanceler de Bolsonaro. Causou espanto sua recorrente menção a Deus e sua paranoia em desmontar a estrutura “marxista” supostamente consolidada no Itamaraty pelos governos petistas. Decisões já anunciadas ou sinalizadas sobre o alinhamento da política externa brasileira à dos Estados Unidos, a mudança da embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém, a aversão às relações com as ditaduras de esquerda e a crítica ao multilateralismo acentuaram o pânico entre os diplomatas.

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    Mas o tratamento duro do chanceler a seus colegas de carreira calou fundo. No início de dezembro, Araújo havia insistido com Bolsonaro na demissão do embaixador Paulo Uchôa, que ocuparia o cerimonial do Palácio do Planalto. Próximo ao presidente eleito, Uchôa havia aconselhado o então presidente eleito a não seguir adiante com o cancelamento do convite aos presidentes da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua para a sua posse — uma sugestão de Araújo.

    Achilles Zaluar, embaixador do Brasil na Síria, foi outro diplomata a perder uma posição de destaque ao expor suas opiniões ao chanceler sobre o Oriente Médio. Ernesto Araújo não gostou do que ouviu e desistiu de sua nomeação para a nova subsecretaria de Cidadania, que tratará principalmente das comunidades brasileiras no exterior. Zaluar permanecerá no posto até ser substituído pelo embaixador Fábio Pitaluga, já aprovado pelo Senado.

    Nesta quarta-feira, 2, o DOU trouxe, na Medida Provisória 870, uma base legal para profissionais de outras áreas assumirem posições de chefia no Itamaraty. Araújo reagiu pelo Twitter dizendo que nada mudará neste sentido, mas o texto abre a porteira para o fim desse privilégio exclusivo da carreira. O texto também permite ao chanceler nomear ministros de segunda classe para posições que eram apenas atribuídas aos de primeira classe (chamados de embaixadores).

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    Assim como Celso Amorim escolhera como seus subsecretários diplomatas que não lhe fizessem sombra, excluindo veteranos da Casa e empurrando ao ostracismo os melhores quadros, Araújo escolheu um time de jovens embaixadores e até de ministros de segunda classe para sua equipe de trabalho. Os veteranos recém-chegados do exterior com a promessa de assumir subsecretarias foram preteridos e tendem a buscar postos fora do Itamaraty. Uma das principais fontes de cargo é o senador Fernando Collor de Mello (PTC) que, como ex-presidente da República, tem garantidas posições para assessores bem remuneradas.

    Para os que observam as mudanças já anunciadas ou prenunciadas, a gestão do novo chanceler será o polo oposto da de Amorim, durante o governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva. O governo de Bolsonaro pode declarar o fim da ideologia no Itamaraty. Mas ela continuará presente, com outra coloração.

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