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As confusões e as diversões de Adélio Bispo na prisão

Quase quatro anos depois de tentar matar Jair Bolsonaro, o homem vive isolado a maior parte do tempo

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jun 2022, 10h02 - Publicado em 26 jun 2022, 09h35
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  • Morador da cela 14 da Ala Delta (são mais três blocos, chamados de vivência) do Presídio Federal de Mato Groso do Sul desde 8 de setembro de 2018, dois dias depois do atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora, Adélio Bispo passa 22 horas do dia isolado. Seu maior passatempo é escrever cartas. O cárcere conta com cama, sanitário, pia, mesa e cadeira, tudo feito de alvenaria. O envio de objetos e utensílios pelos Correios pela família, como ocorre em presídios estaduais Brasil afora, não é permitido. A exceção é uma revista e um livro por semana. A análise do conteúdo leva em torno de uma semana. Só depois disso o material é entregue ao detento.

    Quando pode enfim deixar o cubículo de sete metros quadrados e respirar ares menos confinados, mas por apenas duas horas diárias, Adélio (e os demais detentos) precisa ficar de costas para a porta e cruzar os braços para trás, para que o agente penitenciário o algeme e o leve até o pátio. Nesse local ele pode ficar sem algemas. O mesmo procedimento é realizado no retorno ao cárcere. No banho de sol de cada ala há no máximo outros três presos de cada vez.

    Em um desses “passeios”, em 21 de maio de 2020, Adélio teve um surto psicótico, começou a gritar no pátio e precisou ser encaminhado para a enfermaria do presídio, onde permaneceu por cinco dias e foi também medicado com dipirona e gelo para conter um inchaço no pé. A sua defesa alega que o motivo do impulso foram as sucessivas negativas para sua transferência. Cinco meses antes, durante os procedimentos para o banho de sol (revista pessoal e colocação da algema), Adélio xingou dois dos agentes, chutou a porta e jogou suas roupas no chão. Ao saber que iria para a solitária, ficou ainda mais nervoso e precisou ser imobilizado por mais dois agentes. Como punição, ficou dez dias no isolamento total.

    Em outra encrenca interna, Adélio diz que foi xingado por um guarda chamado Davi. Na sindicância, ele relatou a agressão. “Há muito tempo essa situação provocativa, por parte de agente Davi, vem acontecendo e inclusive em outras oportunidades o mesmo chegou a jogar a alimentação na cela do sindicado, inclusive dizendo que quem vota no Lula é vagabundo e que Bolsonaro é um homem de Deus”, relatou Adélio aos responsáveis pelo inquérito administrativo. Em outra ocasião, o piloto de helicóptero Felipe Ramos de Morais, acusado de participar da morte do traficante do PCC Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, no Ceará, em 2019, em caso de grande repercussão nacional, pediu para os chefes do presídio federal para deixá-lo bem longe de Adélio. O pedido foi aceito.

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    Mas nem tudo são agressões e surtos na vida carcerária de Adélio. Em um prontuário ao qual VEJA teve acesso, constam 149 atendimentos médicos e terapêuticos, como clínica médica, enfermagem, psicologia e psiquiátrico, entre sua chegada, em 2018, e maio de 2020. No período, ele recebeu apenas cinco visitas de familiares.

    Também consta que Adélio teve direito a duas sessões de filmes. Três dias antes da posse de Jair Bolsonaro, Adélio assistiu ao filme Minha Mãe é Uma Peça 2. Em 16 de fevereiro de 2019 a sessão da tarde na cinemateca da cadeia foi com Minha Super Ex-namorada.

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