Alçado à condição de superministro, em razão de sua atuação no combate à crise causada pelo novo coronavírus, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, virou um dos alvos preferenciais de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. As críticas se acentuaram nas últimas horas, após Bolsonaro dizer, em entrevista, que faltava “humildade” ao chefe da Saúde.
Em entrevista à rádio Jovem Pan, na noite da quinta-feira 2, Bolsonaro afirmou que, “em algum momento”, Mandetta teria que “ouvir um pouco mais o presidente da República”. “Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio… Se ele se sair, bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível”, afirmou Bolsonaro.
ASSINE VEJA
Clique e AssineEm outro trecho da entrevista, o presidente disse que “o Mandetta quer fazer a vontade dele muitas vezes”, acrescentando que “falta humildade” ao ministro da Saúde.
O resultado da fritura iniciada pelo próprio presidente veio quase imediatamente. Em um tuíte no qual anunciou a inclusão dos caminhoneiros na segunda fase da campanha de vacinação contra a gripe, Mandetta foi criticado por apoiadores do presidente da República.
“Respeite o presidente e os eleitores de Jair Bolsonaro”, disse uma seguidora; “Mandetta, te admirava pra caramba, mas, o presidente é Bolsonaro. Menos viu, baixe a bola”, escreveu outra.
https://twitter.com/coelho_socorro/status/1246140801102548992
Em outras publicações, Mandetta é classificado como “pau mandado” da Organização Mundial da Saúde (OMS) por defender, a contragosto do presidente, medidas rígidas no combate ao coronavírus, como o isolamento social horizontal, isto é, aquele que atinge toda a sociedade. Bolsonaro, por exemplo, defende que apenas idosos e pessoas com comorbidades sejam mantidas em quarentena. O blog Radar descreveu a conversa tensa que os dois tiveram ao telefone.
Há, ainda, quem chame o ministro da Saúde de “vira-casaca” por ter defendido em uma das coletivas de imprensa o bom senso na adoção de medidas restritivas. Vale ressaltar, no entanto, que algumas das críticas recebidas por Mandetta partiram de perfis com número irrisório de seguidores – menos de 30, por exemplo, o que pode indicar a atuação de robôs.
https://twitter.com/Anholeto/status/1246138074108760065
Os ataques a Mandetta ocorrem no momento em que o ministro da Saúde tem se tornado, cada vez mais, um ator político importante nas redes sociais. Um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) identificou 615,3 mil menções feitas ao comandante da Saúde no Twitter desde sexta-feira 27, contra 246,1 mil menções ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ministro mais popular do governo Bolsonaro. De acordo com o estudo da FGV, oito dos 20 tuítes de maior repercussão no Twitter neste intervalo de tempo são do ministro da Saúde.