O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta tarde na Avenida Paulista, em São Paulo, a milhares de apoiadores que a paciência do povo se esgotou e que ele não vai admitir mais as interferências do Supremo Tribunal Federal e a realização de eleições sem a adoção do voto impresso — a proposta já foi derrubada pelo Congresso.
“A paciência do nosso povo já se esgotou”, declarou. “Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública de votos”, completou. “Não posso participar de uma farsa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”, disse, em referência ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente da corte.
Ele também disse que irá desrespeitar as decisões do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou desafeto do presidente por causa de investigações que comanda e que atingem apoiadores de Bolsonaro suspeitos de ameaçar o STF e as instituições democráticas.
“Nós devemos, sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá”, disse. “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas, turve a nossa liberdade.”
Em seguida, ele fez um afago aos manifestantes que foram às ruas pelo país, principalmente em Brasília, onde ele também discursou e deu uma espécie de ultimato ao STF para afastar Moraes. “Cumprimento todos os patriotas que estão se manifestando por esse imenso Brasil. O povo acordou”, disse.
O presidente também disse que não teme ir para a prisão em razão de qualquer investigação. “Quero dizer aos canalhas: nunca serei preso”, afirmou. Ele também fez referências à possibilidade de o TSE torná-lo inelegível, desafiou qualquer um a tirá-lo do cargo e repetiu uma frase que já havia dito anteriormente, de que só deixaria a presidência “preso, morto ou com a vitória”.
O presidente também criticou governadores e prefeitos por causa das medidas adotadas durante a pandemia — Bolsonaro sempre foi contra as políticas de isolamento social para prevenir o contágio pela Covid-19. “Vocês passaram momentos difíceis com o vírus, mas pior do que a pandemia foram as ações de alguns governadores e prefeitos, que ignoraram a nossa Constituição. Proibiram vocês de trabalhar e frequentar templos e igrejas para sua oração. A indignação de vocês foi crescendo”, discursou.
Contra Doria, STF e Lula
Milhares de manifestantes tomam a Avenida Pauista desde o final desta manhã desta terça-feira para apoiar Bolsonaro, defender suas pautas – como a volta do voto impresso — e gritar contra os adversários do presidente. Além dos protestos contra o STF — em particular o ministro Alexandre de Moraes–, em São Paulo os gritos também são direcionados a um adversário em particular: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O tucano, que é pré-candidato à Presidência da República em 2022, tem se colocado como contraponto ao presidente principalmente nas questões relacionadas à pandemia, como a defesa da vacina e do isolamento social, o que o colocou em rota de colisão com o bolsonarismo.
Boa parte dos manifestantes, aliás, não usa máscaras ou, se usa, as coloca no queixo. Também há vários pontos de aglomeração. Dois caminhões de som foram colocados na altura da faculdade Cásper Líbero – a via é normalmente fechada aos domingos e feriados –, além de um boneco do presidente Bolsonaro.
Além de gritar contra o STF e Doria, os manifestantes defendem o agronegócio e os ruralistas, pedem intervenção militar com Bolsonaro no poder — alguns usam farda e coturno –, empunham bandeiras do Brasil e de Israel e fazem orações e coletam assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil, o partido que o presidente pretende criar, mas que encontra dificuldades para sair do papel. Também entoam gritos de “Lula ladrão”, em referência ao ex-presidente, hoje o principal adversário de Bolsonaro na corrida ao Planalto.