Como diz o adágio popular, vingança é um prato que se come frio. O presidente Jair Bolsonaro (PL) sabe disso: esperou dois anos e quatro meses para experimentar essa sensação no episódio envolvendo ele e o cacique do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE).
Ambos romperam em novembro de 2019 após uma relação na qual os dois se deram bem. Bolsonaro se elegeu a bordo da sigla, que lhe deu guarida quando os grandes partidos esnobaram a sua pretensão presidencial. E o PSL passou de nanico a segunda maior bancada da Câmara, ao eleger 54 deputados na onda bolsonarista que varreu o país em 2018.
O rompimento foi dolorido. Bivar tentou levar o partido para uma posição de independência do governo e deixou em desconforto as quase três dezenas de deputados bolsonaristas que estavam na legenda, a começar pelo filho do presidente Eduardo Bolsonaro (SP).
Os dois tentaram uma reaproximação em agosto de 2020, quando o presidente viu a dificuldade que seria viabilizar o seu novo partido, o Aliança pelo Brasil. A reaproximação não só não prosperou como Bivar acabou se tornando um dos principais articuladores de uma terceira via entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mas o troco veio na janela partidária. Com a porteira aberta pela legislação para os deputados trocarem de sigla sem perderem o mandato, o presidente fez um estrago no União Brasil, o sucessor do PSL. O resultado: dos 54 deputados que o PSL elegeu em 2018, apenas 14 continuaram sob a liderança de Bivar. A imensa maioria foi para os partidos que estão aliados a Bolsonaro, como PL, PP e Republicanos.
O exército do presidente nos três partidos, que formam a base do Centrão, chega a 168 deputados, segundo a última atualização da Câmara. Já a tropa de Bivar ficou com 52, mas deles 20 são egressos do DEM e 18 foram eleitos por outros partidos.