A confusão entre um ministro, a presidente do PT e o governo do Paraná
O caso envolve cancelamento de um anúncio nesta sexta, 3, do plano de concessões de rodovias no estado com previsão de investimentos de 50 bilhões de reais
O cancelamento de um evento do governador Ratinho Junior (PSD) com o ministro dos Transportes, Renan Filho, no qual seriam anunciados os detalhes de concessões de rodovias no Paraná, frustrou o governo do estado, que há três anos tenta avançar com as obras. O evento, que seria realizado em Curitiba na manhã desta sexta-feira, 3, e foi comunicado à imprensa com antecedência, teria sido acordado entre os dois na última quarta, 1º, quando os governos estadual e federal teriam chegado a um acordo sobre o modelo de concessão das rodovias que cortam o Paraná.
Nos bastidores, pessoas que acompanharam as tratativas atribuem à deputada paranaense e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, as interferências que resultaram no adiamento do anúncio das concessões — e que teriam deixado o ministro dos Transportes numa saia-justa. Gleisi seria contrária ao modelo negociado entre Ratinho Junior e Renan Filho, e teria se articulado para adiar o anúncio, que renderia visibilidade para o governador no reduto eleitoral dela. Procurada pela reportagem de VEJA, a deputada não se manifestou até o momento.
Desde 2019, o governo do Paraná tenta viabilizar a concessão de 3.300 quilômetros de rodovias estaduais e federais que cortam o estado, dos quais 1.782 quilômetros precisam de obras de duplicação. A concessão deve ser feita em seis lotes. Nesta sexta, o governo local esperava anunciar a liberação dos dois primeiros.
A gestão de Ratinho Junior fez estudos para que as concessionárias invistam no total cerca de 50 bilhões de reais nas rodovias, melhorando a infraestrutura do estado. Esse modelo resulta em pedágios mais caros, mas o governo afirma ter encontrado uma equação que permitirá preços menores, deixando de exigir que as empresas façam grandes aportes de recursos logo no início dos contratos. Setores do PT representados por Gleisi, por outro lado, teriam preferência por concessões que não exijam grandes obras, mas somente a manutenção das vias — o que, em geral, resulta em pedágios mais baratos.
Questionada por VEJA sobre o adiamento do anúncio das concessões e a suposta interferência de Gleisi, a pasta comandada por Renan Filho afirmou que “em momento algum houve a confirmação do evento por parte do Ministério dos Transportes”, e informou que o modelo ainda está em discussão.
“As conversas para a publicação dos editais dos lotes 1 e 2 do sistema rodoviário do Paraná estão adiantadas e em fase de últimos ajustes. Com zelo, Ministério dos Transportes e governo do Paraná buscam chegar no melhor modelo possível para a população e que, ao mesmo tempo, seja atrativo para a iniciativa privada”, afirmou o ministério.
O governo do Paraná, diferentemente, afirmou, também em nota, que os detalhes finais do processo de concessão já estavam, sim, ajustados. “Após o cancelamento do evento por parte do Ministério dos Transportes, o estado aguarda uma nova agenda para anunciar o modelo, que segue o que foi estudado. No formato definido em comum acordo entre as partes (governos estadual e federal), estão previstos investimentos de mais de R$ 50 bilhões”, disse a gestão de Ratinho Junior.