José Aníbal é um político bastante experiente. Já foi senador e teve cinco mandatos como deputado federal, além de ter sido vereador e secretário estadual por duas vezes (de Energia e de Desenvolvimento), nas gestões de Mário Covas e Geraldo Alckmin. Hoje presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo, no entanto, ele está apostando todas as suas fichas políticas na candidatura a prefeito do apresentador José Luiz Datena, uma iniciativa arriscada e que pode levar a legenda a mais um revés, que pode ser “fatal”, em São Paulo.
“A candidatura de Datena não tem volta”, disse o dirigente tucano na última semana de junho ao programa Os Três Poderes, de VEJA. “Eu não tenho a menor dúvida disso. Nós filiamos e conversamos com o Datena ao longo de três ou quatro meses, mostrando para ele quanto é vital para São Paulo que essa polarização não prevaleça”, afirmou.
O teste de fogo será no próximo sábado, 27, quando o PSDB fará a sua convenção municipal em São Paulo. Tucanos contrários à candidatura de Datena, liderados pelo ex-presidente do diretório paulistano Fernando Alfredo, prometem não só pressionar e constranger o apresentador no evento, como lançar uma candidatura alternativa para desafiá-lo.
O risco é grande para o partido. “Se sábado eu sentir que os caras vão me encher o saco na convenção, eu não vou. Acabou. (…) A partir do momento que eu não me sinta respaldado totalmente pelo partido, que haja palhaçada nessa convenção, que tenha manifestações…”, disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na segunda, 22. “Se o (Joe) Biden (presidente dos EUA) pode desistir, por que eu não posso?”, emendou.
O histórico de desistências de Datena é longo — ele já chegou até a se lançar candidato a presidente da República em 2022, mas, como sempre, recuou. Antes de chegar ao PSDB, em abril deste ano, ele passou por dez partidos e nunca disputou nem sequer uma eleição.
Voo cada vez mais baixo
Um eventual vexame na convenção tucana representaria mais alguns metros no buraco que o PSDB vem cavando nos últimos anos em São Paulo, estado onde a legenda foi fundada e que comandou de 1995 até 2022, a mais longa hegemonia de um partido na história do país.
A campanha municipal em São Paulo já provocou um vexame este ano, quando todos os oito vereadores do PSDB na Câmara paulistana deixaram a sigla depois que a direção nacional sinalizou — e interveio no diretório municipal para isso — que a legenda não apoiaria a reeleição de Ricardo Nunes (MDB). Muitos tucanos têm cargos na administração municipal que foi conquistada pelo PSDB em 2020, com Bruno Covas — ele morreu em maio de 2021, vítima de um câncer. Vale lembrar que Datena pontua no máximo 11% nas pesquisas para a prefeitura, empatado com o coach Pablo Marçal (PRTB) e mais de 10 pontos atrás de Guilherme Boulos (PSOL) e do próprio Nunes.
Na eleição de 2022, o PSDB já havia sofrido vários baques. Perdeu o comando do estado depois de quase três décadas. Antes, havia perdido o seu governador, João Doria, que deixou a sigla depois de ter a sua candidatura a presidente da República, conquistada legitimamente em prévias, ser boicotada pelo partido. Antes, havia perdido Geraldo Alckmin, governador por quatro mandatos, que preferiu ir para o PSB e ser vice de Lula.
O resultado foi o encolhimento da bancada para quatorze deputados federais — em 1998, quando FHC era o presidente, tinha 99.
A exposição pública das suas divergências em uma convenção que irá definir a candidatura na maior cidade do país e berço do PSDB — e, pior, uma eventual desistência do seu pré-candidato — pode ser a pá de terra que faltava no outrora maior partido de São Paulo.