Mulheres com diferentes formações vivenciam a maternidade como um período de obrigações absurdas. Sentem-se obrigadas a dar conta de tudo sozinhas, como se tivessem de carregar o mundo nas costas. Casamento, filhos, casa, emprego. Tudo precisa do esforço da mãe para funcionar bem. O problema é que quem começa a não funcionar bem é ela.
Com muito atraso fui ao cinema assistir a Tully, que mostra as dificuldades enfrentadas por Marlo, personagem de Charlize Theron, após o nascimento do terceiro filho. Fui na última semana em que o filme estava em cartaz em uma sala de São Paulo. Não tive tempo de assistir antes.
Marlo, como uma imensa maioria de mulheres, tem que levar os filhos para a escola, cuidar da casa, da alimentação da família e do recém-nascido. O marido está cada vez mais ausente, pois precisa viajar mais a trabalho para dar conta do aumento das despesas da família. Não há nada de excepcional nessa situação, mas isso não significa que seja fácil passar por ela.
Ela está no puerpério, período em que mais precisa de ajuda, mas não tem ninguém para apoiá-la. Vemos que Marlo está prestes a desmoronar, tanto físico quanto emocionalmente. Por mais que faça, nunca é o suficiente. Ela queria ser uma mãe melhor, que faz cupcakes para os amiguinhos de classe dos filhos. Mas mal dá conta de preparar comida congelada.
Marlo precisa de ajuda, mas reluta em aceitar a proposta do irmão de contratar uma babá para dormir à noite com o bebê. Não dá para contar mais, é preciso assistir. A boa notícia é que o filme está disponível agora para assinantes do NOW, da Net.
Queria ter falado antes sobre Tully, mas não deu tempo. Trabalho, casa, filho doente. Trabalho, casa, lição de casa do filho. Trabalho, casa, comida do filho. Não sobra muito tempo para as mães se cuidarem. Como Marlo, todas as mães tiveram uma vida antes dos filhos. Às vezes, nos esquecemos daquilo que gostávamos de fazer antes da maternidade. Não porque ter filhos seja uma experiência tão incrível que nos faça esquecer de todo o resto, mas porque não sobra tempo mesmo.
A melhor recomendação que escutei desde que virei mãe é que precisamos de uma rede de apoio. Não dá para dar conta de tudo sozinha. O parceiro deveria ser a primeira opção na hora de acolher, mas alguns simplesmente (e infelizmente) não conseguem desempenhar esse papel. A rede de apoio pode ser formada por parentes, amigas, colegas. Pode ser a babá que precisamos pagar. Ou a sogra que relutamos em chamar para cuidar do filho. O importante é reconhecer que não precisamos dar conta de tudo e saber pedir ajuda, mesmo quando ninguém a oferece.