Não se fala de outra coisa nos grupos de WhatsApp, redes sociais ou dentro do elevador: todos querem saber onde tomar a vacina contra a febre amarela. A corrida aos postos de saúde, formando filas de dobrar quarteirão, só aumenta a preocupação com o tema.
Uma amiga esperou quase sete horas para tomar a vacina nesta terça-feira em um posto do Cambuci, região central da cidade. Ela estava acompanhada do marido e filho de 10 anos. A espera chegou a 11 horas no mesmo posto hoje. Uma prima levou o filho de 4 anos e a sobrinha de 11 anos ao posto da Água Rasa, zona leste da cidade. Tiveram de aguardar 8 horas.
A vacina também desapareceu das clínicas particulares de vacinação, que cobram cerca de 250 pela dose. Nem quem pode pagar consegue se imunizar agora.
O sistema de distribuição de senhas também incentiva a corrida aos postos. Afinal, se há senhas é porque existe motivo para procura, não? É possível questionar se existe forma melhor de organizar uma fila. Pode ser que não, mas informar de forma mais efetiva a população sobre quem deve ser vacinado emergencialmente talvez pudesse amenizar o clima de pânico que se instalou.
Procurados, Ministério da Saúde, Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e a Sociedade Brasileira de Imunização (Sbim) informaram que não existe motivo para pânico. Segundo todos eles, só deve buscar a vacina agora quem mora ou pretende viajar para áreas de risco para febre amarela.
“É preciso reforçar que, para aqueles que não moram ou não trabalham em regiões com recomendação de vacinação, a orientação é procurar as unidades apenas em casos de viagem para áreas de risco”, informa a secretaria.
Isabella Ballalai, presidente da Sbim, disse ao blog que o pânico é cultural. “Não precisa correr para o posto. Não há motivo para pânico. Esse medo é cultural, é o medo de doenças graves.”
Segundo ela, quem não mora em áreas de circulação do vírus da febre amarela nem vai viajar para esses locais pode esperar um pouco para se vacinar. “É preciso se vacinar? Sim. Dá para esperar? Dá. Logo mais vai começar uma campanha de vacinação com doses fracionadas.”
A presidente do Sbim alerta que todos devem se vacinar, mesmo quem não mora nem viajará para locais de circulação do vírus. Só não precisa ser imediatamente. “A vacinação deve ser feita como forma de proteção para todo o país, para evitar a ocorrência de novos casos.”
Por isso não vacinarei meu filho agora contra a febre amarela. Não me parece lógico submeter uma criança de 5 anos a uma espera de horas, debaixo de sol e chuva, sem alimentação ou banheiros adequados.
Confesso que foi difícil chegar a essa decisão, pois quero crer que como mãe estou fazendo sempre o meu melhor. Cheguei a me cobrar ontem por não ter buscado a vacina antes, quando não havia filas. Mas então me lembrei que não recebi nenhuma informação oficial de que era necessário buscar imunização imediatamente, já que não fazia parte do grupo de risco.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a busca desenfreada está causando desabastecimento ‘pontual’ de vacinas e insumos, como agulhas. Postos que aplicavam 500 doses por mês agora vacinam 1.000 pessoas por dia.
A culpa agora é da população? Lógico que não! Está faltando informação e campanhas maciças e esclarecedoras sobre riscos de contágio.
Áreas de risco
Mas como saber quais as áreas de risco para a febre amarela? Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, a campanha de vacinação da febre amarela tem como público-alvo todos os distritos da zona Norte, três distritos da zona Sul (Parelheiros, Marsilac e Jardim Angela), parte do Capão Redondo (referência da UBS Luar do Sertão) e os moradores do distrito Raposo Tavares, na zona oeste.
A secretaria informa quem não mora ou trabalha nas áreas com risco de febre amarela deve aguardar o início da campanha de vacinação fracionada, previsto para 29 de janeiro e se estendendo até 17 de fevereiro.
Também farão parte da ação preventiva na zona Leste os distritos Cidade Líder, Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, José Bonifácio, Parque do Carmo, São Mateus e São Rafael.