As sequelas cicatriciais de acne podem consternar os pacientes mais que as próprias lesões ativas, inflamadas da acne per se, além das cicatrizes serem uma entidade clínica desafiadora do ponto de vista terapêutico.
O impacto das cicatrizes de acne na vida psicossocial de seu portador é subestimado por pais, médicos e sociedade. Sabe-se, contudo, que as cicatrizes de acne são um fator de risco para: tentativas de suicídio, ansiedade, depressão e baixa autoestima. Tais sintomas emocionais são mais frequentes em pacientes do sexo feminino, ocasionando dificuldades de inserção social, amorosa e, às vezes, profissional.
As cicatrizes de acne são realmente frequentes?
De um modo geral, cicatrizes de acne ocorrem em 87% dos pacientes portadores de acne moderada a grave, sendo que 50% das cicatrizes de acne são clinicamente relevantes. Grosso modo, cicatrizes na região peitoral e nas costas são vistas, respectivamente, em 38% e 51% dos pacientes.
Geralmente, as cicatrizes de acne já podem ser vistas após 12 semanas de lesões ativas, razão pela qual tratamentos que demoram mais que isso para fazerem efeito aumentam, e muito, as chances da pessoa desenvolvê-las. Além disso, mesmo lesões inflamatórias muito superficiais, menos intensas, podem, em 15% dos casos, desenvolver uma cicatriz permanente. Por isso, o tratamento eficiente e precoce é fundamental!
Como e quão frequentes são as cicatrizes de acne?
Há algum tempo, os dermatologistas têm buscado estabelecer alguns fatores de risco para o surgimento das cicatrizes de acne, embora não haja um consenso absoluto a respeito. De um modo geral, esse fatores são: gênero (elas ocorrem mais nos pacientes do sexo masculino que feminino), portadores de acne mais grave, ocorrência familiar de acne, intensidade e duração das lesões inflamatórias, ineficiência dos tratamentos antiacne, surgimento de acne em idades precoces, surtos clínicos frequentes de acne, localização da acne (principalmente, no tronco) e algumas etnias (como os pacientes negros).
Clinicamente, podemos dividir as cicatrizes de acne em três tipos distintos: cicatrizes atróficas (que são as deprimidas, como, por exemplo, as que aparecem nas regiões temporais), hipertróficas (que são abauladas, restritas aos limites das lesões de acne, geralmente com cor diferente da pele normal, ocorrendo mais no tronco, costas, ombros e orelhas, além de possuir forte influência genética) e hipercrômicas (são as manchas residuais acastanhadas que, se protegidas com o uso de filtro solar, tendem a se resolver ad integrum com o passar dos meses).
Por que as cicatrizes de acne surgem?
Do ponto de vista fisiopatológico, as cicatrizes de acne ocorrem devido ao estabelecimento de um processo inflamatório local prolongado, que nem precisa ser tão intenso, no qual células que normalmente participam do processo cicatricial passam a produzir uma quantidade aumentada de enzimas que destroem fibras colágenas, importantes para o processo cicatricial. Assim, uma cicatrização imperfeita se estabelece, resultando em cicatrizes locais. Isso é exatamente diferente do que ocorre naquelas pessoas não propensas às cicatrizes de acne.
Tem como evitar as cicatrizes de acne?
O tratamento tópico com retinoides, principalmente associado a peróxido de benzoíla, podendo ser acrescidos de antibióticos de uso oral, quando há lesões de acne muito inflamatórias e numerosas, ainda é o padrão-ouro na prevenção das cicatrizes de acne.
Por isso, com base em tudo que foi exposto acima, lembrem-se: a identificação daqueles pacientes mais propensos ao surgimento das cicatrizes é o passo número 1 para escolher a terapia mais eficiente. Logo, independente do grau de sua acne, procure um dermatologista, sempre!
Vai a dica. Até o próximo mês!
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista