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Os dias estão contados para a Cirurgia Bariátrica?

Estudos apontam para a possibilidade de que, no futuro, a obesidade e o excesso de peso possam ser solucionados com medicamentos

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 10 Maio 2019, 12h35 - Publicado em 9 Maio 2019, 16h35
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  • Os estudos utilizando o fármaco Semaglutida (Ozempic), lançado oficialmente no Brasil em 04 de maio deste ano, criam uma aura extraordinária de expectativas no universo daqueles que lidam com o tratamento de obesidade, mas por outro lado fornece generoso conteúdo que tem sido utilizado nos limites do sensacionalismo pelo democratizado meio internáutico e afins.

    O uso de um medicamento findando a necessidade de cirurgia bariátrica é apenas uma possibilidade e no momento é mais querência que fato, conquanto a promissora droga em questão nas doses aprovadas para o tratamento do diabetes tipo 2 promova animadoras perdas ponderais, ainda estão distantes daquelas necessárias na obesidade grave.

    Mas, é oportuno lembrar que até alcançarmos o crepúsculo dos anos 1980, o número de cirurgias relacionadas às úlceras gástricas ou intestinais era brutal, tempos em que reinavam os compostos com Hidróxido de Alumínio como únicas alternativas para o tratamento clínico destas patologias. Com a chegada de potentes drogas que atuam diretamente nas células produtoras do ácido gástrico a realização dessas cirurgias se tornou rara.

    Entendo que nadamos a boas braçadas para a contenção farmacológica da obesidade e a Semaglutida pode ser um passo importante, e ainda que seus mecanismos de ação já fossem conhecidos, os resultados terapêuticos impressionam.

    O hormônio GLP-1 e suas ações

    A sensação de saciedade que permite o conforto para o término de uma refeição envolve vários eventos que modulam o ponto de encerramento da ingestão calórica. Uma substância produzida pelas células da parede intestinal durante o processo absortivo, com vida média de 2 a 3 minutos e denominada Glucagon-like peptide*-1 (GLP-1), participa do eixo mais importante na conclusão do consumo alimentar em questão.

    Na fisiologia pancreática patrocina a produção de insulina proporcional aos níveis glicêmicos ao tempo que suprime a produção do glucagon, hormônio hiperglicemiante também produzido neste órgão. Adicionalmente, os bons níveis deste peptídeo protegem as células produtoras de insulina, assim como provavelmente restaura a função daquelas no caminho do exaurimento.

    Este hormônio possui inúmeros outros prováveis papéis em vários sistemas os quais carecem de estudos adicionais para confirmação, tal qual a suposta melhora na capacitação das micróglias, células de apoio no tecido cerebral, que na plena execução de suas funções parece nos proteger da Doença de Alzheimer. Por outro lado, o GLP-1 seguramente diminui a velocidade do esvaziamento gástrico, gerando sensação de plenitude, contribuindo em algum percentual para maior saciedade.

    Os análogos do GLP-1

    A indústria farmacêutica desenvolve análogos desta estrutura química há aproximadamente duas décadas e o Exenatide (Byeta) foi a primeira referência dessa classe medicamentosa, mas dada sua baixa tolerabilidade não se estabeleceu como alternativa no tratamento de diabéticos tipo 2.

    A chegada da liraglutida (Victoza, Saxenda) à nossa farmacopéia no início dos anos 2010 principiou uma incomparável revolução no tratamento do paciente obeso e diabético, pois além de ótima tolerabilidade, logo teria aprovação também no tratamento de obesos não diabéticos.

    Resultante de duas mudanças na sequência de aminoácidos do GLP-1 nativo a liraglutida possui meia vida de 12 a 13 horas e em dose única diária desempenha fisiologicamente o mesmo que o hormônio original, com intensidade dependente da dose em maior espaço temporal:

    – Estimula a produção de insulina de acordo com os níveis glicêmicos sem risco de hipoglicemia e diminui o hiperglicemiante hormônio glucagon;

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    – Promove menor ingestão alimentar a partir de sua ação direta no Centro da Saciedade, enquanto este (SC), modula o Centro da Fome (CF) por sinais neuroquímicos, resultando menor desejo de comer;

    – Age ainda na diminuição da velocidade do esvaziamento gástrico, no que aumenta a sensação de plenitude;

    – Com provável ação em todos os sistemas nos quais o GLP-1 nativo possua influência.

    Na obtenção laboratorial da Semaglutida as mudanças na sequência de aminoácidos do GLP-1 nativo foram em posições diferentes daquelas de seu antecessor, assim como associação com outro ligante (estrutura química que desprende aos poucos a substância ativa), sendo que neste contexto foi alcançado a meia vida de 165 horas, possibilitando o uso semanal do medicamento.

    O fato de aproximadamente 60% dos pacientes em uso de Semaglutida por 40 semanas, objetivando controle glicêmico, apresentar diminuição ponderal média que se aproxima dos 10% é extremamente sugestivo que tempos melhores virão também para obesos não diabéticos.

    Conclusão

    O pretendido novo tempo farmacológico não evitará procedimentos cirúrgicos tão brevemente, nem tão pouco resolverá as causas de sobrepeso e obesidade, mas seguramente trará muitos sorrisos de volta em incontáveis rostos.  

    Quem sabe ainda melhores transferências **epigenéticas forneçam proles mais resistentes aos elementos ambientais que desarranjam nossos centros reguladores e com isso estejamos consertando um pouco no futuro do que não conseguimos agora.

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    *(peptídeo é uma sequência de aminoácidos)

    **A epigenética, Darwin e a obesidade (publicado em 17 agosto 2018)

     

    Letra de Médico - Antonio Carlos do Nascimento

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    Quem faz Letra de Médico

    Adilson Costa, dermatologista
    Adriana Vilarinho, dermatologista
    Ana Claudia Arantes, geriatra
    Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
    Antônio Frasson, mastologista
    Arthur Cukiert, neurologista
    Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
    Bernardo Garicochea, oncologista
    Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
    Claudio Lottenberg, oftalmologista
    Daniel Magnoni, nutrólogo
    David Uip, infectologista
    Edson Borges, especialista em reprodução assistida

    Eduardo Rauen, nutrólogo
    Fernando Maluf, oncologista
    Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
    Jardis Volpi, dermatologista
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    Luiz Rohde, psiquiatra
    Luiz Kowalski, oncologista
    Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
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    Roberto Kalil, cardiologista
    Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
    Salmo Raskin, geneticista
    Sergio Podgaec, ginecologista

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