O número de casos de câncer de mama aumentou significativamente nos últimos 20 anos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), só na última década houve um acréscimo de 20% nos diagnósticos desse tumor. Difícil encontrar uma família que não tenha passado por uma experiência assim.
O aumento da incidência é uma realidade e, junto com ela, houve uma transformação na forma de lidar com o assunto. Antigamente era algo escondido, havia vergonha de se mencionar a doença. Hoje, com a conscientização da importância do diagnóstico precoce, a situação mudou.
Divulgam-se mais notícias sobre o tema, fala-se mais sobre o assunto, e o câncer de mama pode ser discutido na sala de jantar, no escritório, na mesa de bar. Não é mais uma doença escondida, ao contrário, é um assunto sobre o qual precisamos falar.
Por isso, a troca de experiências é fundamental para o entendimento e a prevenção do problema. Nesse contexto, a pesquisa “Um Olhar sobre o Câncer de Mama no Brasil”, organizada por VEJA SAÚDE com a participação da FEMAMA, entrevistou 1 237 pacientes de todas as regiões do país. Nesta amostra, 67% já havia acompanhado um caso de câncer de mama entre familiares ou amigos.
A convivência com um paciente é uma experiência educativa. Promove o engajamento, o envolvimento e, o mais importante, a empatia. Essa habilidade é essencial para compreender a doença e impulsionar a prevenção. É uma energia poderosa no sentido de alertar e motivar. Por isso a FEMAMA escolheu a empatia como tema da campanha do Outubro Rosa 2023. Ela sensibiliza tanto no sentido privado, de ajudar quem está por perto, como na esfera pública, no ato de apoiar políticas em prol do tratamento e da prevenção.
Existe ainda muita dificuldade de as pessoas entenderem a sua responsabilidade para evitar um diagnóstico de um câncer de mama já em estágio avançado, um cenário menos favorável pois exige tratamentos mais agressivos, com menos chances de sucesso. A mudança de consciência ainda está em curso e é necessário reforçar a importância dos exames de rastreamento, como a mamografia, que deve ser feita a partir dos 40 anos anualmente e até mesmo a partir dos 30 para quem tem antecedentes familiares.
A mamografia de rotina oferece a possibilidade de identificar lesões que ainda não são tumores malignos e também tumores invasores pequenos que a palpação não consegue detectar. É a forma indicada para aumentar as chances de curar a doença, evitar tratamentos que impactem demais a vida do paciente e reduzir a o número de mortes.
O problema é que o exame ainda é subestimado pela população. Na pesquisa “Um Olhar sobre o Câncer de Mama no Brasil”, cerca de 1/3 das entrevistadas afirmam não fazer mamografia com frequência e 20% nunca a fizeram. As secretarias municipais de saúde de várias cidades afirmam que sobram mamografias na rede pública. Será? Por outro lado, tantas mulheres tentam fazer e não conseguem.
Onde está o problema? É necessário amplificar o discurso sobre o papel dos exames de rastreamento. Por enquanto não temos outra alternativa com evidências científicas que superem o impacto da mamografia de rotina na melhoria das curvas de mortalidade.
Mas é preciso fazer isso com afeto, com as responsabilidades de todos e com empatia. FEMAMA acredita na informação de qualidade, nos cuidados mútuos e no poder das redes de apoio para o acolhimento ao paciente e seus familiares. Por isso, cuide-se, cuide de quem está por perto e apoie políticas públicas em prol da saúde. Lembre-se: com empatia, somos mais vida. Feliz Outubro Rosa!
* Maira Caleffi é mastologista, chefe do serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, presidente voluntária da FEMAMA e membro do conselho da UICC (Union for International Cancer Control)