O transtorno bipolar é marcado por uma alteração persistente de humor, que pode variar entre episódios de depressão e mania/hipomania. De um lado, a tristeza e o desamparo. Do outro, a euforia.
Durante o acompanhamento e tratamento, a rede de apoio é peça fundamental. Familiares, parceiros e amigos ajudam a identificar os sinais de alteração do humor, a manter os remédios em dia, a frequentar as sessões de psicoterapia e as consultas médicas.
Para que tudo isso seja possível, não só o paciente como as pessoas do seu círculo social devem entender as características e sinais da doença, bem como as particularidades do tratamento.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 140 milhões de pessoas no mundo são bipolares. No Hospital Dia de Psiquiatria do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), a bipolaridade é um dos transtornos mentais mais prevalentes.
No HSPE, há um esforço para promover a psicoeducação, isto é, conscientizar e informar sobre o transtorno bipolar as pessoas próximas de quem está em acompanhamento médico. O objetivo é melhorar a adesão ao tratamento e a investigação do comportamento do paciente no dia a dia, fornecendo informações que podem tornar a abordagem terapêutica ainda mais assertiva diante das peculiaridades de cada caso.
A participação do círculo social é extremamente importante até mesmo para o diagnóstico da doença. Apesar de a bipolaridade apresentar sintomas clássicos, marcados principalmente pela mudança no estado de humor, muitas vezes essas alterações passam desapercebidas. Principalmente durante os episódios de hipomania, em que a sensação de energia, disposição e bem-estar é intensa e induz o paciente a acreditar que está ótimo. Por isso, o relato de alguém próximo faz a diferença e diminui as chances de uma abordagem terapêutica ineficaz.
Um exemplo: alguém com bipolaridade não diagnosticada que realiza tratamento com antidepressivos para depressão unipolar – apenas com sintomas depressivos, sem episódios de mania. Esse indivíduo pode ficar mais suscetível a episódios de hipomania e mania, além de apresentar quadro depressivo mais duradouro.
Vale lembrar que é comum a conversão diagnóstica (depressão unipolar para transtorno bipolar) após análise mais criteriosa da história de vida do paciente e identificação de elementos que a justifiquem. Nesse sentido, ocorrerá certamente a mudança no tratamento, que impactará significativamente a melhora dos sintomas, da qualidade de vida e da funcionalidade dessas pessoas.
Também contribui para os bons resultados entender que nem toda bipolaridade é igual. Podemos dividir o transtorno em dois tipos:
• Bipolar tipo 1, com episódios de mania e depressão;
• Bipolar tipo 2, com episódios de hipomania e depressão.
O círculo social que conhece melhor a bipolaridade pode ajudar a diminuir o estigma e a imagem depreciativa sobre a doença. Pode também colaborar para normalizar o assunto e engajar os pacientes a seguir o tratamento para viver com mais qualidade.
* Michel Haddad é psiquiatra no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), principal unidade do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe)