Agosto é o mês dourado. O mês de campanhas de incentivo, estímulo e orientação ao aleitamento materno. Primeiro alimento do ser humano, instintivo, completo, simples e barato, no entanto, ainda gera inúmeras controvérsias. E quantos tabus. Acabamos de ver recentemente matéria que uma companhia de aviação exige que a mãe amamente bebês em voo somente se cobertas, para não incomodar os outros passageiros! Em pleno desenrolar de campanhas em todo o mundo para que a mãe tenha direito de amamentar em qualquer lugar, sem qualquer constrangimento, sentimos que tudo isto é um retrocesso…
Pega correta, posição adequada… Por quanto tempo o bebê deve mamar? Existe um intervalo certo? São mil dúvidas que devem ser respondidas pelo pediatra até mesmo antes do nascimento do bebê… Por isto, a Sociedade Brasileira de Pediatria está desenvolvendo campanha para a consulta pré-natal com o Pediatra. Estranho? Não, porque o pediatra pode preparar a gestante para uma série de situações que aparecem logo no início da vida e que, às vezes, deixam de ser solucionadas, por uma consulta tardia ao consultório após o parto.
Em relação ao aleitamento, muitas perguntas estão nas cabeças dos pais, e muitas fantasias e questionamentos aparecem. Para todas estas dúvidas, não existe uma resposta padronizada, pois varia muito de criança para criança, de mãe para mãe. Uma resposta que deveria ser instintiva e natural, sofre modificações culturais, de costumes e hábitos. Os medos e as desinformações pululam na sociedade, e também nas redes sociais. De um extremo ao outro – dos cavaleiros do peito armado, que advogam que todos devem e podem mamar sem qualquer problema, aos radicais que decidem que a substituição é mais simples e não incentivam o aleitamento.
Quando amamentar?
Na prática, o bebê mama quando tem fome e isto pode ser sinalizado de diferentes formas, como movimentos de sucção e procura do peito. O choro seria um sinal mais tardio da fome. O que procuramos fazer é que o bebê mame se possível ainda na sala de parto, ou pelo menos seja colocado em contato com peito materno. A quantidade de colostro é variável e pode ser pequena ao nascimento e vai aumentando gradativamente nas primeiras horas. A cor do leite também varia muito, não devendo ser comparado em cor e mesmo em densidade, ao leite de outras espécies.
Quanto ao tempo entre cada mamada, o regime de livre demanda, isto é, o bebê mama quando precisar e quiser, é o ideal. Nas primeiras semanas de vida, usualmente as crianças conseguem manter um intervalo de 2 a 4 horas entre cada mamada. À medida que o tempo passa, o bebê estabelece seu ritmo, com tendência ao espaçamento. No entanto, cada um tem o seu horário.
A duração da mamada não tem relação com quantidade de leite consumido, já que a eficiência da sucção é variável. O ideal é que dure até que o bebê solte espontaneamente o peito. Importante lembrar que a formação de fissuras está diretamente associada à pega e posição inadequadas. É extremamente importante que o pediatra peça para ver a amamentação na consulta inicial ou quando houver dúvida, para orientar a pegada, a posição, avaliar a força da sucção…
Durante a mamada, a composição do leite é diferenciada. Inicialmente contém mais proteínas e açúcares e ao final o leite é rico em gorduras e vitaminas lipossolúveis, sendo mais calórico. Assim, é importante que seu filho mame o primeiro peito completamente, até que o solte espontaneamente, e só então, o segundo peito é ofertado. Às vezes poderá aceitar, às vezes já estará saciado. A mamada seguinte, portanto, deve começar pela mama mais cheia, ou seja, a que o bebê mamou menos tempo.
Até quando amamentar?
A recomendação da maioria das sociedades pediátricas é que o aleitamento materno seja exclusivo até o sexto mês de vida, e mantido pelo tempo que for adequado para o bebê e a mãe. Geralmente a orientação é de que o aleitamento siga até o segundo ano, e algumas crianças podem mamar mais tempo. Ainda temos muito a aprender com nossa população nativa, que amamenta de forma contínua, introduzindo a alimentação não láctea somente quando a mãe percebe que a postura, desenvolvimento e atenção do bebê, permite esta mudança.
Usualmente amamentam até o provável processo de uma nova gestação (e muitas vezes o próprio bebê já sinaliza que há uma nova gravidez em curso ao abandonar o peito espontaneamente- sentindo uma variação de sabor causada por modificações hormonais no leite da gestante…)
De qualquer forma, a socióloga Margaret Mead escrevia que o tempo do aleitamento é como a duração de um relacionamento. Ele deve ser mantido enquanto adequado aos dois componentes da relação. Quando um não quer, precisamos verificar os motivos e tentar orientar para o sucesso do relacionamento…
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Eduardo Rauen, nutrólogo
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcelo Bendhack, urologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Roberto Kalil, cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista