O ruidoso debate sobre preços de combustíveis encobre o rumor da luta política pelo controle de áreas-chave da Petrobras e de todo o setor energético.
O PT mobilizou sua base sindical, agrupada na CUT e nas organizações de petroleiros, para disputar o domínio da Petrobras com partidos de centro-direita aliados a Lula, como o PSD e o União Brasil.
Esses dois partidos possuem 20% dos votos na Câmara, mais que a bancada eleita pelo PT, PCdoB e PV, que soma 16% dos votos disponíveis no plenário dos deputados.
Eles fizeram quatro das sete indicações de para o Conselho de Administração da Petrobras. Os nomes sugeridos devem passar por uma votação na assembleia geral da empresa, prevista para a segunda quinzena de abril. O governo federal é decisivo, porque detém a maioria das ações (51%) com direito a voto.
A Federação de Petroleiros, que é vinculada ao PT e à CUT, e esteve engajada na campanha eleitoral de Lula, iniciou protestos contra os indicados pelo PSD e União Brasil.
Considera todos “nomes ligados ao bolsonarismo, ao mercado financeiro e a favor de privatizações”. Se eleitos para o Conselho de Administração, argumentou a FUP em nota pública, haveria risco de imposição “obstáculos para o cumprimento de programa de governo”.
PT e sindicalistas querem ter o controle das áreas de decisão da Petrobras sobre os contratos de serviços, os preços de venda de combustíveis e a distribuição de lucros aos acionistas.
O embate por cargos vai além da Petrobras, envolve a estrutura operacional do Ministério das Minas e Energia, comandado por Alexandre Silveira, do PSD de Minas que é vinculado a Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.
Lula deixou o ministro de Energia na periferia do processo de decisão sobre o aumento de preços da gasolina e do etanol, com a volta de tributos a partir de hoje. E, também, da taxação das exportações de petróleo cru, que vai afetar a Petrobras e, mais intensamente, as perspectivas de uma centena de empresas privadas exploradoras e comercializadoras de óleo.
A Petrobras é o maior ativo estatal disponível. A crise, que se arrastou no governo Jair Bolsonaro e continua com Lula, foi agravada pelos efeitos da guerra de Vladimir Putin na Ucrânia sobre os preços dos combustíveis no mercado mundial.
A gênese do conflito partidário-sindical, porém, vai muito além das oscilações nos preços do petróleo e dos derivados. Está na longeva disputa pelo loteamento político das áreas com poder de decisão da política energética e da empresa pública, ocasionalmente lucrativa mas sempre sob ingerência do governo federal.